Emissões globais de dióxido
de carbono (CO2) aumentam mesmo com a diminuição do carvão e o
aumento das energias renováveis.
Emissões globais de dióxido
de carbono aumentaram pelo segundo ano consecutivo, impulsionadas pelo
crescente consumo de energia.
Escola de Ciências da
Terra, Energia e Meio Ambiente de Stanford (Stanford Earth)*
As emissões globais de
dióxido de carbono se encaminham para aumentar pelo segundo ano consecutivo,
principalmente devido ao crescente consumo de energia, de acordo com novas
estimativas do Projeto Carbono Global, uma iniciativa liderada pelo cientista
Rob Jackson, da Universidade Stanford.
As novas projeções chegam a
uma semana em que negociadores internacionais estão se reunindo na cidade
carbonífera de Katovice, na Polônia, para desenvolver as regras de
implementação do acordo climático de Paris.
Sob o acordo de 2015, centenas de nações se comprometeram a reduzir as emissões
de carbono e a manter o aquecimento global “bem abaixo” de 2°C acima da
temperatura pré-industrial.
“Nós pensávamos, talvez
esperávamos, que as emissões haviam atingido seu auge há alguns anos,” disse
Rob, professor de ciência do sistema terrestre na Escola de Ciências da Terra,
Energia e Meio Ambiente de Stanford (Stanford Earth). “Após dois anos de
crescimento renovado, aquilo foi uma ilusão.”
O relatório do Projeto
Carbono Global, intitulado “Global energy growth
is outpacing decarbonization”,
apareceu em 5 de dezembro na revista revisada por pares Environmental Research
Letters, com mais informações detalhadas publicadas simultaneamente na Earth
System Science Data.
O grupo estima que as emissões globais de CO2 (dióxido
de carbono), devido à queima de combustíveis fósseis – as quais representam
aproximadamente 90% de todas as emissões provocadas por atividades humanas –
alcançarão um máximo histórico de mais de 37 bilhões de toneladas em 2018, um
aumento de 2,7% do total de emissões em 2017. Isso se contrapõe ao 1,6% de
aumento do ano anterior. As emissões de origem não fóssil, tais como o
desmatamento, estão projetadas para acrescentar quase 4,5 bilhões de toneladas
de emissões de carbono ao total de 2018.
“A demanda global por energia
está ultrapassando o poderoso crescimento das energias renováveis e da
eficiência energética,” disse Rob Jackson, que também é membro sênior do Woods
Institute for the Environment e do Precourt Institute for Energy, de Stanford.
“O tempo está passando em nossa luta para manter o aquecimento abaixo de 2°C”.
Carros, carvão e
clima frio
Nos Estados Unidos,
calcula-se que as emissões de dióxido de carbono aumentarão 2,5% em 2018, após
uma década de declínios. Os culpados pelo aumento incluem o clima atípico – um
inverno frio nos estados ao leste e um verão quente em grande parte da nação
intensificaram a necessidade de energia para o aquecimento e o resfriamento
sazonal – assim como um crescente apetite por petróleo diante dos preços baixos
de combustível.
“Estamos dirigindo mais
quilômetros em carros maiores, mudanças estas que estão ultrapassando as
melhorias na economia de combustível dos veículos,” Rob explicou. No geral, o
uso do petróleo nos EUA está a caminho de crescer mais de 1% este ano, em
comparação com 2017.
O consumo de um combustível
fóssil, no entanto, não está mais em ascensão: o carvão. O estudo mostrou que o
consumo de carvão no Canadá e nos Estados Unidos caiu em 40% desde 2005, e
apenas em 2018 espera-se que os EUA bata os recordes e reduza o volume da
produção de carvão em 15 gigawatts. “As forças de mercado e a necessidade de um
ar mais limpo estão empurrando os países na direção da energia eólica, solar e
de gás natural,” disse Rob. “Esta mudança não somente reduzirá as emissões de
CO2, mas também salvará vidas perdidas para a poluição atmosférica.”
O estudo ainda mostra que as
energias renováveis ao redor do mundo estão sendo cada vez mais usadas como
complementos das fontes de energia de combustíveis fósseis – especialmente o
gás natural – em vez de como substitutos. “Não é o bastante que as energias
renováveis cresçam,” Rob disse. “Elas precisam tomar o lugar dos combustíveis
fósseis. Até agora, isso está acontecendo com o carvão, mas não com o petróleo
ou com o gás natural.
Com o passar do tempo, os pesquisadores alertam
que o uso intensificado de carvão em regiões onde grandes faixas da população
não tem acesso a eletricidade confiável poderia em algum momento exceder os
acentuados cortes no uso de carvão em outros lugares. Estima-se que as emissões
na Índia, por exemplo, crescerão 6% este ano, à medida que o país corre para
construir novas usinas de energia para necessidades industriais e de consumo.
“Eles estão construindo tudo – eólica, solar, nuclear e de carvão – muito
rapidamente,” disse Rob.
Funcionamento a todo vapor
A demanda por energia está
crescendo em todo o mundo. “É a primeira vez em uma década que as economias de
praticamente todos os países estão crescendo,” disse Rob.
De acordo com o estudo, a
maior mudança nas emissões de carbono deste ano, comparado a 2017, é uma
aceleração substancial tanto no consumo de energia quanto nas emissões da
China. Após quatro anos de emissões estáveis em meio à pressão para melhorar a
qualidade do ar, o país agora pisou no acelerador.
O crescimento econômico
global aumentou a demanda por aço, ferro, alumínio e cimento fabricado na
China. Enquanto isso, uma recente diminuição na economia da própria China
estimulou o país a mudar seu enfoque para o desenvolvimento de energia.
“A China está estimulando
projetos de carvão que estavam parados,” disse Rob. Como resultado, espera-se
que as emissões do país aumentem 5% em 2018, além do crescimento de
aproximadamente 3,5% no ano anterior.
As estimativas desse ano em
alguns aspectos marcam um retorno a um antigo padrão, no qual as economias e as
emissões crescem mais ou menos em sincronia. Contudo, a história recente sugere
que os dois podem ser dissociados. De 2014 a 2016, as emissões se mantiveram
bem estáveis apesar do crescimento no produto interno bruto global, em grande
parte graças ao uso reduzido de carvão nos EUA e na China, à aprimorada
eficiência energética e à expansão de energia renovável em todo o mundo.
“Nós podemos ter crescimento
econômico com menos emissões,” disse a cientista do clima Corinne Le Quéré da
Universidade de East Anglia, autora principal do artigo do grupo na Earth
System Science Data. “Não há dúvidas quanto a isso.” Durante a última década,
pelo menos 19 países, incluindo a Dinamarca, a Suíça e os Estados Unidos,
reduziram as emissões de dióxido de carbono provenientes da queima de
combustíveis fósseis enquanto suas economias cresceram.
Em 2019, a menos que haja um declínio na
economia global, os pesquisadores antecipam que as emissões de dióxido de
carbono crescerão ainda mais, apesar da urgência de se reverter o curso. De
acordo com Rob, “nós precisamos que as emissões se estabilizem e rapidamente
diminuam até não existirem mais.”
Figura.
Painel superior: emissões globais de CO2 provenientes da queima de
combustíveis fósseis e da indústria (círculos abertos) e Produto Mundial Bruto
($ US) expresso como paridade do poder de compra (quadrados preenchidos; Banco
Mundial 2018) desde 1990. Os símbolos em vermelho são projeções para 2018.
Painel do meio: relativo ao ano 2000, Produto Mundial Bruto, emissões globais
de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis e da
indústria, consumo de energia global (BP 2018), intensidade de CO2
do sistema de energia (emissões globais de CO2 provenientes da
queima de combustíveis fósseis e da indústria divididas pelo consumo de energia
global), e intensidade de energia da economia global (consumo de energia global
dividido pelo PIB global) de 1990 a 2018. Painel inferior: emissões de CO2
fósseis, incluindo a produção de cimento globalmente e por cinco regiões (ROW =
Rest of Word); parênteses mostram índice médio de crescimento anual para 2012 a
2017. (ecodebate)
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