Um recurso tão presente na vida cotidiana que,
muitas vezes, só notamos sua importância quando falta: é assim que muitos de
nós tratamos a água potável.
O
tema selecionado pela ONU para reflexão no 22 de março, Dia Internacional da
Água – Water for all: living no one behind (‘Água para todos: não deixando
ninguém para trás’, em tradução livre) – nos lembra algo interessante: o ato
quase mágico da água surgindo
de uma torneira, ao qual estamos acostumados, não é uma realidade para
considerável parte da população mundial.
Se
a falta de água potável parece um fato muito distante, basta relembrar o
ocorrido em diversas regiões do estado de São Paulo num passado recente, em
2014 e 2015, quando um período prolongado de estiagem levou o abastecimento de
muitas cidades a níveis críticos de escassez. Nessa época, para muitos de nós,
o simples ato de lavar roupas ou tomar um banho tornou-se um desafio diário.
Situação
muito comum em outras áreas do país. Dados do Plano Nacional do Saneamento de
2013 mostram que no Brasil, em 2010, apenas 60% da população contava com
abastecimento adequado. Do restante, 64 milhões (33,9%) de brasileiros contavam
com abastecimento precário e cerca de 13 milhões (6,8%) de pessoas, sequer com
isso.
O
caso mais emblemático em território nacional é o do semiárido, que enfrenta
períodos de estiagem frequentes e problemas referentes à qualidade das águas
nas fontes, muitas delas inadequadas ao consumo humano. Mas há outras regiões
em que o acesso à água potável também não é fácil: muitas das comunidades
ribeirinhas da região amazônica, povoados construídos praticamente sobre os
grandes rios e igarapés, não tem acesso a ela. Nesse caso, o fator limitante
não é a falta do recurso, mas a qualidade da água disponível, muitas vezes
imprópria para consumo devido a contaminantes.
E
não é só em regiões distantes que isso acontece. Nas zonas rurais de muitos
municípios ou até em alguns nichos específicas dentro de áreas urbanas,
inclusive na região Sudeste, por uma série de motivos diferentes, muitas vezes
o acesso à água é precário, limitado ou inexistente.
Uma
vez que não existe solução que possa ser aplicada de modo amplo e
indiscriminado, é preciso analisar cada situação. Soluções simples,
implementadas com os cuidados técnicos necessários, muitas vezes podem ser as
mais adequadas. O aproveitamento de águas de chuva, como forma de permitir o
abastecimento mais seguro em locais onde o acesso à água potável é
problemático, é um exemplo. Intensamente adotado na região semiárida
brasileira, também foi uma das soluções complementares de abastecimento mais
utilizadas durante o período de escassez hídrica pela qual a região Sudeste
passou entre 2013 e 2015.
Por
outro lado, soluções mais complexas exigem o manejo integrado de águas urbanas,
abordando todo o seu ciclo e estabelecendo alternativas para que as águas sejam
utilizadas de forma eficiente. Desenvolvimento, avaliação e uso de equipamentos
sanitários economizadores, estruturação de programas de uso eficiente de água e
acompanhamento de consumo, uso de fontes alternativas como forma de
abastecimento complementar e até mesmo o manejo das águas de drenagem urbana,
além do correto tratamento dos esgotos gerados para evitar a contaminação de
mananciais, podem fazer parte de programas mais complexos para locais onde
existe o abastecimento de água potável, mas a disponibilidade hídrica torna-se
crítica para guarnecer a população existente. É o caso de um bom número de
regiões metropolitanas brasileiras.
Água
para todos: não deixando ninguém para trás.
Não
deixar ninguém para trás significa garantir a disponibilidade e o manejo
sustentável da água para todos, como estabelece o Objetivo 6 do Desenvolvimento
Sustentável da agenda 2030 da ONU, da qual o Brasil é um dos países
signatários. Significa olhar para esses locais e buscar alternativas efetivas
para garantir o acesso à água, sempre empregando tecnologias adequadas.
(ecodebate)
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