A concentração de CO2
na atmosfera atingiu novo recorde na semana de 12 a 18 de maio de 2019, com
415,39 partes por milhão (ppm), segundo dados da National Oceanic &
Atmospheric Administration (NOAA). Devido às variações sazonais, sempre ocorre
o pico em maio e o vale em setembro. O gráfico abaixo mostra o aumento ocorrido
nos últimos anos e o ritmo da escalada é impressionante.
A concentração de CO2
estava em 404 ppm em maio de 2015, saltou para 407,7 ppm em maio de 2016,
atingiu 409,7 em maio de 2017, alcançou 411,2 ppm em maio de 2018. O recorde
foi atingido em maio de 2019 com 414,7 ppm. A variação de maio a maio, no
último ano, foi de 3,5 ppm, um recorde preocupante e que se agrava ao longo do
tempo, desde que Charles Keeling iniciou suas pesquisas no laboratório de Mauna
Loa, no Havaí, ainda na década de 1950.
Ao longo do ano, a concentração
de CO2 segue um padrão sazonal, com pico (valor máximo) nos meses de
maio e vale (valor mínimo) no mês de setembro. O limiar de 400 ppm foi atingido
em maio de 2013. Em 2015, a marca das 400 ppm foi ultrapassada em 8 dos 12
meses. Na média anual, 2015 atingiu a cifra de 400 ppm e o de 2016 foi o
primeiro a ultrapassar a marca de 400 ppm em todos os meses. Na média anual,
2014 ficou com 398,7 ppm, 2015 com 400,83 ppm, 2016 com 404,2 ppm, 2017 com
406,6 ppm e 2018 com 408,5 ppm. O gráfico abaixo mostra as concentrações
diárias, semanais e mensais de CO2 entre maio de 2018 e maio de 2019.
Embora o aumento da
concentração de CO2 na atmosfera não apresente uma tendência
monotônica, a subida acontece de forma consistente ao longo das décadas. Em
2018, o aumento foi de 2,39 partes por milhão (ppm). É um número menor do que
os 3 ppm de 2015 e 2016, mas é maior do que o 1,89 ppm de 2017. Isto fez com
que a média de 2010 a 2018 ficasse em 2,4 ppm, número acima da média da década
passada (2000-09) que foi de 2,0 ppm e muito acima da média da última década do
século XX (1991-00) que foi de 1,5 ppm, conforme apresentado no gráfico abaixo.
Portanto, a despeito das variações sazonais, o efeito estufa continua
aumentando em ritmo mais acelerado do que nas décadas anteriores e o ano de
2019 deve bater novo recorde.
Nos 800 mil anos antes da
Revolução Industrial e Energética a concentração de CO2 estava
abaixo de 280 ppm, conforme mostra o gráfico abaixo da NOAA. As medições com
base no estudo do gelo, mostram que em 1860 a concentração atingiu 290 ppm. Em
1900 estava em 295 ppm. Chegou a 300 ppm em 1920 e atingiu 310 ppm em 1950. Com
base nos dados do laboratório de Mauna Loa, constata-se que a concentração de
CO2 na atmosfera, na média mensal, mantem o ritmo acelerado no
século XXI, mesmo após a assinatura do Acordo de Paris.
O dramático é que o efeito estufa está se agravando. Artigo de Gavin L.
Foster e colegas, publicado na Nature Communications (04/04/2016) mostra que o
mundo caminha para um aquecimento potencial sem precedentes em milhões de anos.
Os atuais níveis de dióxido de carbono são inéditos na história humana e estão
no caminho certo para subir às alturas. Se as emissões de carbono continuarem
em sua trajetória atual, a atmosfera poderia atingir um estado não visto em 50
milhões de anos. Naquela época, as temperaturas eram até 10° C mais quentes e
os oceanos eram dramaticamente mais altos do que hoje. A pesquisa que originou
o artigo compilou 1.500 estimativas de dióxido de carbono para criar uma visão
que se estende por 420 milhões de anos, conforme mostra o gráfico abaixo.
O aumento da concentração de CO2
na atmosfera contribuiu para o fato dos últimos 6 anos (2014, 2015, 2016, 2017,
2018 e 2019) terem sido os mais quentes já registrados no Holoceno (2019 deve
ser o terceiro ano mais quente já registrado). O nível minimamente seguro de
concentração atmosférica é de 350 ppm. Assim, o mundo vai ter não só de parar
de emitir gases de efeito estufa (GEE) como terá que fazer “emissões
negativas”, ou seja, terá que sequestrar carbono e fazer uma limpeza da
atmosfera. O custo deste processo será muito mais caro do que o custo de
reduzir as emissões.
Superar a era dos combustíveis
fósseis e fazer uma mudança da matriz energética é um passo fundamental. Mas a
lentidão da redução da queima de energia fóssil pode levar o mundo ao caos
climático. Além disto, as demais atividades antrópicas também emitem GEE. Por
exemplo, a pecuária é grande emissora de gás metano que é pelo menos 21 vezes
mais poluente do que o CO2. E uma grande ameaça que se agrava com o
processo de degelo é a “bomba de metano” que existe no permafrost.
Portanto, o mundo está num beco
sem saída. Quanto mais avança com o crescimento econômico e o desenvolvimento
das atividades antrópicas mais acontece as emissões de GEE. Os benefícios do
desenvolvimento são colhidos hoje pela humanidade, mas os prejuízos para a
biodiversidade estão aumentando de forma exponencial e os custos humanos serão
pagos pelas novas gerações. As crianças e os jovens de hoje vão pagar um alto
preço nas próximas décadas se a concentração de CO2 não voltar para
o nível de 350 ppm.
Artigo de Camilo Mora et. al.,
“Broad threat to humanity from cumulative climate hazards intensified by
greenhouse gas emissions”, publicado na revista Nature climate change
(19/11/2018), mostra que as mudanças climáticas trarão múltiplos desastres de
uma só vez. “Enfrentar essas mudanças climáticas será como entrar em uma briga
com Mike Tyson, Schwarzenegger, Stallone e Jackie Chan – tudo ao mesmo tempo”,
disse o principal autor do estudo, que descreve os inúmeros impactos que devem
atingir a civilização nos próximos anos.
Isto quer dizer que, a despeito
das boas intenções do Acordo de Paris, assinado em 2015, e das Conferências das
Partes (COPs), as emissões globais estão aumentando e os compromissos dos
países estão sendo insuficientes para atingir os objetivos acordados na capital
francesa. Está cada vez mais difícil alcançar a trajetória de decrescimento das
emissões de GEE.
Greta Thunberg – a ativista
sueca de 16 anos que ajudou a inspirar a explosão mundial de mobilizações
climáticas para jovens – argumenta que o sucesso ou fracasso do movimento
climático global pode ser determinado por uma só medida: a curva de emissão de
GEE: “As pessoas sempre dizem a mim e aos outros milhões de estudantes
grevistas que devemos nos orgulhar pelo que conseguimos. Mas a única coisa que
precisamos olhar é a curva de emissões. E me desculpe, mas ainda está
aumentando. Essa curva é a única coisa que devemos olhar” (Johnson,
05/06/2019).
A garota Greta, que recentemente
lançou o livro “Nossa casa arde”, está correta, pois as gerações jovens de hoje
vão pagar um alto preço no futuro pela inação e pela incapacidade coletiva de
mudar o padrão de produção e consumo e o crescimento demoeconômico.
Isto
reforça as conclusões do estudo de Camilo Mora et. al. (19/11/2018), quando
afirma que até 2100 a população mundial ficará exposta, especialmente algumas
áreas costeiras, até seis perigos ambientais simultâneos. Também quer dizer que
o desenvolvimento sustentável está se tornando um oximoro e o tripé da
sustentabilidade virando um trilema. Em vez de aumentar a resiliência das
populações, a humanidade está ficando cada vez mais exposta a múltiplos riscos
e caminhando para uma situação cada vez mais vulnerável e assustadora.
(ecodebate)
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