“A floresta precede os povos. E o
deserto os segue” - François-René
Chateaubriand (1768-1848).
O
Brasil é o país que mais mata e desmata no Planeta. As forças retrógradas da
nação brasileira persistem e insistem no delito do ecocídio e nos homicídios
contra os defensores do meio ambiente, agravando o holocausto biológico. O
Brasil é campeão da prática dos crimes socioambientais e ecossociais.
Segundo
a “Global Forest Watch” o Brasil liderou o desmatamento de florestas primárias
no mundo em 2018. Cerca de 12 milhões de hectares de florestas tropicais
desapareceram em 2018, o equivalente a 30 campos de futebol por minuto. Só no
Brasil, foi desmatado 1,3 milhão de hectares de florestas – sendo o país que
mais perdeu árvores no ano passado. Mas o que estava ruim em 2018 piorou ainda
mais em 2019, com o agravamento da defaunação.
Segundo
a “Global Witness” o Brasil ficou em primeiro lugar entre os países que mais
matam ativistas e defensores da terra e do meio ambiente entre 2002 e 2017. Em
2017, pelo menos 207 líderes indígenas, ativistas comunitários e ecologistas
foram assassinados mundo afora por protegerem seus lares e comunidades dos
efeitos da mineração, da agricultura em grande escala e de outras atividades
que ameaçam sua subsistência e seu modo de vida. O Brasil foi o país com o
maior número de ativistas ambientais assassinatos: 57, dos quais 80% defendiam
os recursos na Amazônia.
Em
2018, o Brasil foi o quarto país que mais matou ambientalistas. Segundo o
levantamento da Global Witness, 20 ambientalistas foram assassinados em 2018 no
País. O Brasil ficou atrás de Filipinas (30 assassinatos), Colômbia (24) e
Índia (23). No total, foram registrados 164 mortes de defensores do meio
ambiente em 2018. Mas entre 2002 e 2018 foram assassinados 653 ambientalistas
no Brasil, que ficou com o título de país que mais matou no mundo, no período.
Além disto, o Brasil é um dos campeões mundiais em homicídios e acidentes de
trânsito. Ou seja, o “Patropi” tem taxas escandalosas de mortes violentas.
O
Brasil possui a maior reserva ambiental absoluta do mundo, segundo a Global
Footprint Network. Contudo, o superávit ambiental era bem maior em 1961 (quando
começaram os cálculos), cerca de 3 vezes o superávit atual. Ou seja, o Brasil
perde biodiversidade e vê seus ecossistemas serem degradados na medida em que
avançam as atividades antrópicas e os indicadores de desenvolvimento humano.
Como
mostraram Alves e Martine (2017), toda a riqueza natural deste imenso país está
sendo ameaçada pelo descuido, degradação e exploração selvagem dos
ecossistemas. O aumento da poluição nas cidades, a destruição dos rios, o uso
generalizado de fertilizantes e agrotóxicos, a construção de hidrelétricas,
toda a cadeia produtiva industrial, a rede de comércio e serviços, a
acidificação dos solos e das águas, a desertificação, a expansão da agricultura
e da pecuária, o desmatamento, a malha de rodovias, os incêndios e queimadas, a
exploração da biomassa, dentre outros tipos de degradação.
A
Mata Atlântica ocupava uma área de aproximadamente 1.300.000 km2,
estendendo-se por 17 estados do território brasileiro. Hoje, os remanescentes
de vegetação nativa estão reduzidos a cerca de 22% de sua cobertura original e
encontram-se em diferentes estágios de regeneração. Apenas cerca de 8% estão
bem conservados em fragmentos acima de 100 hectares. Além de ser um dos biomas
mais ricos do mundo em biodiversidade, a Mata Atlântica tem importância vital
para aproximadamente 120 milhões de brasileiros que vivem em seu domínio, onde são
gerados aproximadamente 70% do PIB brasileiro. O Brasil desmatou a ferro e fogo
a Mata Atlântica.
O
Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área de
2.036.448 km2, cerca de 22% do território brasileiro. Em seu espaço,
encontram-se as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do
Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata), o que resulta em um elevado
potencial aquífero. Depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o bioma brasileiro
que mais sofreu alterações com a ocupação humana. O Brasil desmatou mais de 70%
do Cerrado.
O
Pantanal é considerado uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta. A
sua área aproximada é 150 mil km², ocupando assim 1,76% da área total do
território brasileiro. Em seu espaço territorial, o bioma é influenciado por
rios que drenam a bacia do Alto Paraguai. O Pantanal mantêm 86,8% de sua
cobertura vegetal nativa. Apesar de sua beleza natural exuberante o bioma vem
sendo muito impactado pela ação humana, principalmente pela atividade agropecuária.
Apenas 4,4% do território encontra-se protegido por unidades de conservação. O
Brasil desmatou 13% do Pantanal.
A
caatinga ocupava uma área de cerca de 844 mil km2 entre o norte de
Minas Gerais e o Nordeste, o equivalente a 11% do território nacional. Apesar
da sua importância, a Caatinga tem sido desmatada de forma acelerada nos
últimos anos, devido, principalmente, ao consumo de lenha nativa e a conversão
de áreas naturais para pastagens e agricultura. O Brasil desmatou cerca de 50%
da Caatinga.
O
Pampa, localizado no estado do Rio Grande do Sul, ocupa uma área de 176.496
km², correspondendo a 63% do território estadual e a 2,07% do território
nacional. Porém, a progressiva introdução e expansão das monoculturas e das
pastagens com espécies exóticas têm levado a uma rápida degradação e
descaracterização das paisagens naturais do bioma. O Brasil já desmatou 54% do
Pampa.
A
Mata de Araucária ocupava 36,7% da área do estado do Paraná (ou 73 mil km²),
60,1% do estado de Santa Catarina (ou 57 mil km²), 21,6% da área do estado de
São Paulo (ou 53 mil km²) e 17,4% do estado do Rio Grande do Sul (ou 48 mil
km²). Atualmente, os últimos remanescentes da mata está em perigo, pois foi
excessivamente explorada, a maioria das vezes de forma ilegal. O Brasil desmatou
impressionantes 99% da Mata de Araucária.
Os
Mangues desempenham um importante papel como exportador de matéria orgânica
para os estuários, contribuindo para a produtividade nas zonas costeiras. Por
essa razão, constituem-se em ecossistemas complexos e dos mais férteis e
diversificados do planeta. A destruição dos manguezais gera grandes prejuízos,
inclusive para a economia, direta ou indiretamente, uma vez que são perdidas
várias importantes funções ecológicas desempenhadas por esses ecossistemas. O Brasil
desmatou cerca de 25% dos manguezais somente nos anos 2000.
A
Mata de Cocais está situada entre uma zona de transição dos biomas da Amazônia
e da caatinga nos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Pará e norte do Tocantins.
O bioma é naturalmente fragilizado, e a procura de solos férteis, extração de
minérios e de madeira, além de instalações industriais e comerciais estão
poluindo o aquífero Tocantins-Araguaia e acelerando o desmatamento. A maior
parte deste bioma está em processo de ser savanizada ou desertificada. O Brasil
já desmatou cerca de 35% da Mata de Cocais.
A
Floresta Amazônica é o maior bioma do Brasil: num território de 4,196.943
milhões de km2 crescem 2.500 espécies de árvores (ou um terço de
toda a madeira tropical do mundo) e 30 mil espécies de plantas (das 100 mil da
América do Sul). A bacia amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo,
cobrindo uma área de cerca de 6 milhões de km2 e e tem 1.100
afluentes. O rio Amazonas lança ao mar cerca de 175 milhões de litros d’água a
cada segundo. Água e floresta formam um ecossistema inigualável.
Dados
do Prodes do INPE, mostram que o desmatamento, de 1988 a 2014, atingiu o
montante de 408 mil km². Essa área desflorestada é maior do que a soma dos
territórios dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Alagoas,
Sergipe e Distrito Federal. No total, as seis Unidades da Federação possuem uma
área de 393.462 km². Outros 400 mil km² foram destruídos entre 1965 e 1988. O
Brasil já desmatou mais de 20% da Floresta Amazônica.
Todos
estes números são assustadores, mas ao invés de estabelecer a meta de
desmatamento zero e começar a investir na regeneração das florestas e dos
ecossistemas, o atual governo brasileiro ataca as instituições que medem o grau
de desmatamento e aquelas que defendem o meio ambiente e os povos da floresta.
O
artigo “O novo presidente do Brasil e ‘ruralistas ameaçam o meio ambiente,
povos tradicionais da Amazônia e o clima global” de Lucas Ferrante e Philip
Fearnside, do INPA, publicado no sítio do IHU, resume a agenda antiambiental do
atual governo e diz: “Jair Bolsonaro, que assumiu o cargo em 1º de janeiro de
2019 como o novo presidente do Brasil, tomou medidas e fez promessas que
ameaçam a floresta amazônica brasileira e os povos tradicionais que a habitam.
Os ruralistas, nomeadamente os grandes proprietários de terras e os seus
representantes, que são uma parte fundamental da base política do novo
presidente, estão a avançar uma agenda com impactos ambientais que se estendem
a todo o mundo”.
O
garimpo e a mineração são duas grandes ameaças à Amazônia. Em 22/07,
garimpeiros invadiram a Terra Indígena Waiãpi, no oeste do Amapá, e mataram de
forma violenta o cacique Emyra Waiãpi, confirmando que o Brasil desmata e mata
em volumes absurdos e de forma violenta, como o desmatamento em unidades de
conservação na bacia do rio Xingu.
A
revista britânica “The Economist” publicou a matéria “Relógio da Morte para a
Amazônia” (01/08/2019) onde diz: “Em nenhum lugar as apostas são maiores do que
na bacia amazônica – e não apenas porque contém 40% das florestas tropicais da
Terra e abriga 10 a 15% das espécies terrestres do mundo. A maravilha natural
da América do Sul pode estar perigosamente próxima do ponto de inflexão além do
qual sua transformação gradual em algo mais próximo do estepe não pode ser
impedida ou revertida. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, está apressando
o processo – em nome, ele afirma, do desenvolvimento. O colapso ecológico que
suas políticas podem precipitar seria sentido com mais intensidade nas fronteiras
de seu país, que circundam 80% da bacia – mas também ia muito além delas. Deve
ser evitado”.
Segundo
dados do Deter, houve, até o dia 26/07, crescimento de 212% nas áreas
desmatadas da Amazônia em relação ao mesmo mês do ano passado. De acordo com o
sistema gerenciado pelo INPE, a devastação de florestas neste período
corresponde a 1.864 quilômetros quadrados, área maior do que o município de São
Paulo. O desmatamento já tinha crescido 88% no mês de junho, na comparação com
o mesmo mês de 2018.
Contudo,
o governo federal contestou os dados sobre desmatamento, apontados por imagens
de satélite usadas no monitoramento ambiental pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), órgão vinculado ao Ministério de Ciência e
Tecnologia. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, apresentou estudo
feito pela pasta alegando inconsistências nos dados de desmatamento obtidos
pelo Deter.
Mas
comunicado à imprensa do INPE mostra que a Instituição prestou os devidos
esclarecimentos e que “O INPE reafirma sua confiança na qualidade dos dados
produzidos pelo DETER. Os alertas são produzidos seguindo metodologia
amplamente divulgada e consistentemente aplicada desde 2004. É amplamente
sabido que ela contribuiu para a redução do desmatamento na região amazônica,
quando utilizada em conjunto com ações de fiscalização”.
Quanto
à saída do Diretor do INPE, o Observatório do Clima divulgou a seguinte
mensagem: “A exoneração de Ricardo Galvão é lamentável, mas era esperada. Ele
selou seu destino ao não se calar diante das acusações atrozes de Jair
Bolsonaro ao INPE. Ao reagir, Galvão também preservou a transparência dos dados
de desmatamento, ao chamar a atenção da sociedade brasileira e da comunidade
internacional para os ataques sórdidos, autoritários e mentirosos de Bolsonaro
e Ricardo Salles à ciência do INPE. A imagem do Brasil já está
irremediavelmente comprometida por essa cruzada contra os fatos. Nos próximos
meses, Bolsonaro e seu ministro do Ambiente descobrirão, do pior jeito, que não
adianta matar o mensageiro, nem aparelhar o INPE: a única maneira de evitar más
notícias sobre o desmatamento é combatê-lo”.
Ou
seja, o maior país da América do Sul já destruiu cerca de 90% da Mata Atlântica
e grande parte dos outros biomas. Agora caminha para destruir a Amazônia,
enfraquecer as instituições que fornecem dados sobre o desmatamento e eliminar
as pessoas que lutam para manter a floresta de pé e garantir a sobrevivência
dos povos da região.
O
Brasil é o país que mais mata e desmata. E o governo brasileiro em vez de
evitar o desastre ambiental tem atuado no sentido de acelerar a destruição
ecossocial e as bases da biodiversidade.
Na
semana de 20 a 27/09/2019 haverá a greve global contra a destruição da natureza
e em defesa do futuro. Será a Greve Global pelo Clima. O povo brasileiro
precisa se inspirar na greve dos adolescentes contra as mudanças climáticas e
iniciar um grande movimento de massas para defender o meio ambiente e não
derrubar árvores, mas sim governos incompetentes e que contribuem para a
destruição da base ecológica da vida na Terra. (ecodebate)
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