Diante de suas sólidas bases
teóricas de fundação, o Sistema Único de Saúde (SUS) deveria ser um dos
sistemas mais sustentáveis do país.
Não se tornou sustentável por
conta de alguns fatores que descreveremos abaixo, mesmo assim tornou-se um
símbolo nacional, assim como o Serviço Nacional de Saúde (NHS, sigla do sistema
de saúde da Inglaterra), e se reergueram dos escombros para enfrentar a
pandemia do Coronavírus. O NHS foi criado no governo socialista do Reino Unido
após a segunda guerra mundial e sempre foi visto como sendo o melhor sistema de
saúde do mundo. O SUS sofreu influência do NHS e foi criado por sanitaristas de
esquerda do Brasil em 1988.
Os governos de direita tanto no
Reino Unido quanto no Brasil, incluindo o governo Bolsonaro, tudo fizeram para
destruir estes sistemas. Mas agora com a Pandemia do Coronavírus, perceberam
que os hospitais privados, que são privilegiados com os recursos públicos, não
tinham condições de enfrentar esta pandemia. O primeiro-ministro do Reino Unido
já ofereceu alguns bilhões de dólares ao NHS, depois que foi atingido pelo
vírus. Saúde é um bem público e assim deve ser entendido.
Em 2016, o governo Temer
comemorou a aprovação pelo Congresso de uma PEC que limitou o teto de gastos,
incluindo o SUS. Isto pode ser visto como uma ação criminosa, considerando a
redução de direitos da população à saúde e à dignidade humana, além da
violência e desrespeito à vida humana.
Com a perda de bilhões, a
partir de 2017, o SUS vem mostrando o crescimento da mortalidade causada pela
dengue, zika e chikungunha e a sua decadência. Com o coronavírus, não se fala
mais na dengue, que está matando como nunca. Se o SUS não está dando conta da
dengue, como enfrentar a pandemia do coronavírus? Nesta hora nos causa inveja o
espírito público do povo britânico, onde nenhum político é contra o Sistema
Nacional de Saúde (NHS, sigla em inglês), ao contrário de nossos políticos que
decretaram a morte do SUS. Como salvar o povo destas epidemias, aliviando sofrimentos?
Como explicar a realidade do SUS?
Desde que assumiu o governo,
Bolsonaro desrespeita e debocha da ciência e a academia, como prática dos
populistas de ultradireita. A indicação de seus três ministros da educação é um
deboche à academia. As universidades foram menosprezadas, xingadas e
sucateadas. No âmbito do meio ambiente a tragédia teve reconhecimento mundial,
afetando a economia do país com os boicotes sofridos. Com o Coronavírus, sua
prática foi criminosa, segundo profissionais e órgãos de saúde, além de
insinuar uma fantasia nas preocupações mundiais sobre um vírus que assombra o
mundo.
A melhor notícia deste ano foi
o reconhecimento mundial de que o Brasil tem os melhores profissionais de saúde
pública do mundo, levando ao acordo do Ministério da Saúde com a Universidade
de Oxford e o Laboratório AstraZeneca para transferência de tecnologia de uma
vacina contra o coronavirus. O mundo inteiro está apostando nesta vacina, que
deverá ser produzida a partir do final do ano ou início de 2021. Foi a ciência
brasileira, construída ao longo de décadas, e a qualidade dos cientistas
brasileiros que permitiu este acordo, mesmo num governo que nega a ciência e a
importância de seus cientistas.
Mesmo com esta qualidade na
saúde pública, temos militares a frente do Ministério da Saúde insistindo na
cloroquina, já denunciada pelo TCU como superfaturada pelo Exército. Pior, são
militares que não entendem de saúde pública. Por ter tido muita influência de
sanitaristas de esquerda, que foram contra a ditadura militar, é possível que o
governo Bolsonaro queira transformar o SUS em barracas militares. Os milhares
de profissionais do sistema que, em muitas ocasiões, foram chamados de heróis e
heroínas, talvez não estejam percebendo que o papel deles e do SUS, em salvar
vidas com ações públicas e coletivas, pode ser transformado em interesses
puramente econômicos de mercado e de bolsa de valores.
Com razão, no atual governo, muitos estão criticando a destruição da Amazônia, da nossa democracia, de nosso arcabouço legal e o autoritarismo, mas poucos estão falando sobre a destruição do SUS, que está no caminho do sepultamento com as milhares de vítimas do coronavírus. Vamos defender o que deveria ser um símbolo de sustentabilidade e orgulho de todos brasileiros, ou seja, o SUS e a saúde pública e coletiva para todos e não transformá-lo num puxadinho dos militares. Governos de esquerda ou direita devem aumentar os recursos do SUS, torná-lo mais democrático e universal e nunca pensarem na sua destruição. (ecodebate)
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