Índice mostra São Paulo com padrão de consumo insustentável
Estudo da WWF e da consultoria Ecossistemas
revela que paulistano tem estilo de vida predador ao planeta e distante do
modelo sustentável
Uma das conclusões da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre o
Desenvolvimento Sustentável encerrada na semana passada, é de que o mundo
precisa alterar radicalmente seus índices de consumo para lidar com o
esgotamento dos recursos naturais do planeta. Um levantamento divulgado durante
a Rio+20 mostrou que a lição precisa ser feita aqui mesmo em casa: de acordo com
o estudo, se todos os 7 bilhões de habitantes da Terra tivessem o mesmo estilo
de vida do paulistano, seriam necessários 2,5 planetas para sustentar esse
padrão de consumo. Levando em conta todo o Estado de São Paulo, onde o padrão é
menor do que na capital, ainda haveria necessidade de dois planetas.
Se todos tivessem estilo de vida paulistano,
seriam necessários 2,5 planetas para sustentar consumo
Esse é o cálculo da pegada ecológica, índice que mede o impacto do
estilo de vida sobre os recursos naturais. Ou seja: o rastro deixado pelos
seres humanos no lugar onde vivem. Quanto mais rica é a família, maior é a
pegada. O estudo foi feito pela organização não governamental da WWF e pela
consultoria Ecossistemas, com o apoio da Prefeitura e do governo do Estado de
São Paulo.
A pegada ecológica é a área que seria necessária para garantir
determinado padrão de vida. O paulistano precisa de 4,38 hectares. Já o
paulista, 3,52 hectares. Isso é considerado muito, uma vez que o planeta tem a
oferecer apenas 1,8 hectares por pessoa.
Para chegar a esse número, são levadas em consideração informações como
emissões de CO2, hábito de comer carne, moradia, lazer e consumo.
“Conhecer a pegada não resolve todos os problemas ambientais, mas é um
indicador importante do monitoramento dos recursos naturais. Depois do cálculo
tem de haver mobilizações para que o consumo seja mais racional e depois
iniciar a fase de compensação”, alertou Michael Becker, coordenador do estudo.
Faixa. No Brasil, a WWF já havia feito o cálculo da pegada ecológica,
mas só em Campo Grande (MS). Lá, o valor é de 3,14 hectares. Em São Paulo, pela
primeira vez, foi analisada a pegada de acordo com a faixa de rendimento
familiar. Para famílias do Estado de São Paulo que ganham até dois salários
mínimos, é preciso uma área de 1,8 hectares por pessoa (o que equivale ao
índice verificado em Gana, um dos países mais pobres do mundo).
Entre as que têm rendimento de mais de 25 salários mínimos, a área chega
a 11,5 hectares por pessoa –próximo do nível registrado pelo líder do ranking,
os Emirados Árabes (10,68).
Para Fabrício de Campos, diretor executivo da Ecossistemas, o brasileiro
tem de estar atento ao tipo de alimento que ingere.
O consumo de carne vermelha tem grande impacto na pegada ecológica, por
conta da área utilizada para a criação do gado.
Isso também ocorre com o tabaco, que é cultivado em amplas zonas
agrícolas. A emissão de CO2 não tem tanto peso, porque o Brasil tem
matriz elétrica bastante limpa. No País, a pecuária e a agricultura são os
fatores que mais contribuem para a pressão exercida sobre recursos naturais no
País. A criação de gado representa 0,95 hectares dessa pegada – bem acima da
média mundial (0,21). Essa pressão ocorre por conta da baixa produtividade. Já
a agricultura foi responsável por 0,8 hectares, quando a média dos outros
países é de 0,59.
Pelos cálculos da WWF, o planeta leva um ano e meio para renovar recursos
consumidos e absorver o CO2 produzido durante um ano – o mundo
consome 50% a mais do que a sua capacidade. (OESP)
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