Artigo de Marcia
Hirota, originalmente publicado no Blog do Planeta – Estudo da Fundação SOS Mata Atlântica
divulgado com exclusividade pela revista Época constatou que a cobertura
florestal nativa na bacia hidrográfica e nos mananciais que compõem o Sistema
Cantareira, centro da crise no abastecimento de água que assola São Paulo, está
pior do que se imaginava. Hoje, restam apenas 488 km2 (21,5%) de
vegetação nativa na bacia hidrográfica e nos 2.270 km2 do conjunto
de seis represas que formam o Sistema Cantareira.
O levantamento
avaliou também os 5.082 km de rios que formam o sistema. Desse total, apenas
23,5% (1.196 km) contam com vegetação nativa em área superior a um hectare em
seu entorno. Outros 76,5% (3.886 km) estão sem matas ciliares, em áreas
alteradas, ocupadas por pastagens, agricultura e silvicultura, entre outros
usos.
O estudo teve como
base o último Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, que avaliou
a situação da vegetação nos 17 Estados com ocorrência do bioma, no período
2012-2013. O Atlas, que monitora o bioma há 28 anos, é uma iniciativa da
Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), com patrocínio de Bradesco Cartões e execução técnica da Arcplan.
Com base em imagens
de satélite, o Atlas da Mata Atlântica utiliza a tecnologia de sensoriamento
remoto e geoprocessamento para monitorar os remanescentes florestais acima de 3
hectares. Neste estudo sobre o Sistema Cantareira, realizado pela SOS Mata
Atlântica e Arcplan, foram identificadas as áreas de até 1 hectare.
As análises foram
avaliadas em nível municipal, indicando os municípios com total de áreas
naturais mais preservados. As cidades observadas foram: Camanducaia (19,6% de
vegetação nativa), Extrema (15,2%), Itapeva (7,9%) e Sapucaí Mirim (42%), em
Minas Gerais; Bragança Paulista (3,2%), Caieiras (50,2%), Franco da Rocha
(40,8%), Joanópolis (18,8%), Mairiporã (36,6%), Nazaré Paulista (24,7%),
Piracaia (17,7%) e Vargem (17,9%), em São Paulo.
As florestas naturais
protegem as nascentes e todo fluxo hídrico. Com esses índices de vegetação, não
é de se estranhar que o Sistema Cantareira opere, atualmente, com o menor nível
histórico de seus reservatórios, já que para ter água é preciso ter também
florestas.
E o que fazer diante
deste quadro?
O primeiro
desafio é proteger o que resta de Mata Atlântica e manter, com rigor, o
monitoramento e a fiscalização dessas áreas para evitar a ocorrência de novos
desmatamentos.
Importante lembrar
que Minas Gerais, Estado que reúne não apenas as nascentes de rios que formam o
Sistema Cantareira, mas também das bacias dos rios Doce, São Francisco e
Paraíba do Sul, entre outros, é o recordista do desmatamento da Mata Atlântica
pelo quinto ano consecutivo, de acordo com os últimos dados do Atlas da Mata
Atlântica.
O segundo ponto é
promover a recuperação florestal nessas regiões, incluindo-se aqui
investimentos públicos e privados para restauração florestal e programas de
Pagamentos Por Serviços Ambientais (PSA) voltados aos proprietários de terras,
municípios e Unidades de Conservação que as preservarem.
Com o objetivo de
estimular esse esforço, a Fundação SOS Mata Atlântica lançará ainda neste mês
um novo edital do programa Clickarvore, com apoio do Bradesco Cartões e
Bradesco Capitalização, para a doação de 1 milhão de mudas de espécies nativas
para restauração na Bacia do Cantareira. Essas mudas possibilitarão a
recuperação de até 400 hectares de áreas, que por sua vez podem promover a
conservação de 4 milhões de litros de água por ano. A ideia é que os projetos
selecionados colaborem para conservar e proteger os recursos hídricos
conectando, nessas regiões, os poucos fragmentos de mata que hoje encontram-se
isolados.
Pode parecer pouco,
tendo em vista o tamanho do desafio, mas é um primeiro passo para trazer de
volta as florestas e a água ao Sistema Cantareira. Esperamos que essa
iniciativa contribua para o fortalecimento de políticas públicas efetivas e que
possa marcar o início de esforços conjuntos da sociedade, iniciativa privada e
do poder público para a recuperação desse importante manancial. Afinal, a grave
escassez que enfrentamos neste ano reforça a necessidade do Estado promover a proteção
dos mananciais e a gestão integrada e compartilhada da água.
A restauração da
cobertura florestal nas áreas de mananciais é o pontapé para a recuperação das
reservas de água. No entanto, para que traga resultados efetivos, essa
iniciativa precisa ser somada a uma ação urgente e firme do Governo do Estado
no sentido de implementar efetivamente instrumentos econômicos como o PSA e a
cobrança pelo uso da água a todos os usuários, o que garantirá a
sustentabilidade do sistema e o acesso à agua em quantidade e qualidade para a
sociedade. (ecodebate)
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