Produção de fertilizante orgânico de origem 100% vegetal por
meio de compostagem
Os fertilizantes orgânicos
são insumos utilizados para manter a fertilidade do solo, sendo aplicados em
grande volume e, geralmente, de forma periódica. Sua demanda é crescente, o que
tem promovido aumentos significativos dos preços desses insumos nos últimos
anos. Os fertilizantes orgânicos tradicionalmente utilizados, como o esterco
bovino e a cama de aviário, possuem custo elevado e são de difícil obtenção em
algumas regiões. Podem apresentar problemas de contaminação química, como
resíduos de carrapaticidas e antibióticos. Também podem apresentar contaminação
biológica, como sementes de plantas invasoras e organismos que causam doenças
ao homem. São produtos que apresentam dificuldades para o seu transporte e
armazenamento, devido à sua elevada umidade e à emissão de odores.
A crescente demanda
por fertilizantes orgânicos pode ser suprida por meio da utilização de resíduos
e subprodutos resultantes da produção agropecuária, da atividade agroindustrial
e do ambiente urbano. Centenas de milhões de toneladas de materiais orgânicos
são gerados anualmente no Brasil. O aproveitamento desses materiais é
fundamental para promover a sustentabilidade da agricultura nacional e a
conservação do ambiente, reduzindo as perdas de nutrientes e otimizando o seu
aproveitamento. Essa reciclagem evita que os nutrientes se acumulem em
determinado local, podendo causar problemas ambientais, enquanto são demandados
em outros locais para produção vegetal.
Antes de serem
empregados na produção agropecuária, os materiais orgânicos devem passar por processos
de estabilização e descontaminação. A compostagem é uma tecnologia que visa a
aumentar a eficiência desses processos, proporcionando condições ideais para a
transformação de resíduos e subprodutos em fertilizantes orgânicos humificados,
ricos em nutrientes e isentos de contaminação química e biológica. Apesar de
sua importância, a compostagem é pouco conhecida no Brasil, pois as tecnologias
utilizadas foram desenvolvidas em outros países. É necessário criar processos
de compostagem adequados à nossa realidade, que aproveitem os materiais
localmente disponíveis e que reduzam a quantidade de mão de obra necessária.
Atenta a esta
demanda, a Embrapa, em parceria com outras instituições, desenvolve diversas
ações visando à criação de tecnologias de compostagem inovadoras. Um exemplo é
a tecnologia que utiliza apenas matérias-primas 100% vegetais para produção de
fertilizantes orgânicos, desenvolvida na Embrapa Agrobiologia. Como utiliza
matérias-primas que são isentas ou apresentam reduzida carga de contaminação
química e biológica, o processo de compostagem é mais simples, sem a
necessidade de se realizar revolvimentos periódicos, o que reduz o emprego de
mão de obra e torna mais viável a sua utilização por parte de pequenos
agricultores. Essa compostagem pode ser realizada na pequena propriedade rural
e também em grande escala, pois seu processo de produção é muito simples.
Como produzir o
fertilizante orgânico 100% vegetal
Materiais pobres em
nitrogênio (bagaço de cana, serragem ou palhada de milho) devem ser misturados
com materiais ricos em nitrogênio, como torta de mamona, cevada ou folhas de
leguminosas, visando à obtenção de uma mistura com teor mediano de nitrogênio.
A Tabela 1 apresenta a classificação de alguns materiais de origem vegetal em
função do seu teor de nitrogênio. A proporção de cada material na composição da
mistura também deve levar em consideração a sua umidade e a sua densidade.
Dependendo dos materiais utilizados, as proporções podem ser muito diferentes.
Por exemplo, o composto pode ser feito misturando-se 1 litro de torta de mamona
para cada 50 litros de capim elefante picado (proporção de 1 para 50) ou
misturando-se 50 litros de palhada de gliricídia para cada 50 litros de capim
elefante picado (proporção de 1 para 1). É muito importante que a mistura das
matérias-primas seja bem feita, pois isso reduz as perdas de nutrientes e a
emissão de odores que podem ocorrer durante o processo. A mistura deve ser
umedecida, sendo que o ponto ideal é aquele em que o material está úmido, mas sem
escorrimento de água. Em seguida, a mistura deve ser amontoada, formando pilhas
com largura entre 1,0 e 1,5 metro e altura entre 1,0 e 1,2 metro.
É natural que a
temperatura da pilha aumente rapidamente nos primeiros dias e se reduza
gradualmente ao longo do processo. Mas a compostagem pode ocorrer sem que haja
elevação de temperatura. A duração da compostagem vai depender das
características das matérias-primas utilizadas, da eficiência do processo de
compostagem e da forma de utilização do adubo orgânico produzido, podendo
variar entre 60 e 120 dias. Durante esse período, a umidade deve ser mantida
por meio de irrigações periódicas, que devem ser mais frequentes nos primeiros
30 dias. Não é necessário realizar revolvimentos caso a mistura inicial tenha sido
bem feita. Também não é necessário utilizar inoculantes ou qualquer outro
aditivo.
Tabela 1 - Classificação
de alguns materiais de origem vegetal em função dos seus teores de nitrogênio
Teor de nitrogênio
reduzido (< 1,0%) - Capim velho; Bagaço de cana; Serragem; Palhada de milho
ou trigo.
Teor de nitrogênio
mediano (entre 1,0 e 2,0%) - Capim novo; Grama; Hastes de leguminosas; Palha de
café.
Teor de nitrogênio
elevado (> 2,0%) - Tortas e farelos vegetais; Folhas de leguminosas; Borra
de café; Cevada. (ecodebate)
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