A agricultura pode não
atender a demanda de alimentos nas próximas décadas.
Existe um mito de que a Terra
tem amplas condições de atender a demanda mundial por alimentos até 2050. Mas a
realidade mostra que o quadro alimentar no mundo é mais complexo e há
dificuldades crescentes para produzir comida de forma sustentável.
Artigo de Chris Clayton
(17/10/2018) utilizando o Índice de Produtividade Agrícola Global (GAP, em
inglês) – compilado pela Global Harvest Initiative – mostra que a produção de
alimentos não está crescendo rápido o suficiente para atender a demanda de
comida da população mundial de forma sustentável.
O problema é mais grave em
países de baixa renda onde o crescimento da produção tem ficado,
persistentemente, abaixo da demanda. O relatório mostra que 2018 é o quinto ano
consecutivo de desequilíbrio entre a oferta e a demanda. Desta forma, se esta
tendência não for revertida, o mundo pode não ser capaz de fornecer os
alimentos, rações, fibras e biocombustíveis necessários para uma população
global em crescimento.
A “Produtividade Total dos
Fatores” (TFP, em inglês) nos países de baixa renda está crescendo em 0,96% ao
ano, o que está abaixo do crescimento projetado nos últimos dois anos. Isso
fica bem abaixo da taxa de crescimento necessária para atingir as metas de
sustentabilidade de dobrar a produtividade dos alimentos nos países de baixa
renda e alcançar a “fome zero” até 2030 ou mesmo até 2050.
Para atender à demanda
projetada de cerca de 10 bilhões de pessoas na década de 2050, o relatório
afirma que a produtividade agrícola global deve aumentar em 1,75% ao ano. Esse
crescimento é necessário, mesmo que os cientistas do clima avisem que a
produção das colheitas diminuirá especialmente em ambientes tropicais nas
próximas décadas, devido às temperaturas mais altas e padrões climáticos mais
voláteis.
Até o momento, o Índice de
Preços da FAO (gráfico abaixo) não tem apresentado uma tendência de subida
muito forte. O Índice atingiu o seu valor máximo (em termos reais) no auge da
crise de petróleo de 1973 e 1974. Depois, iniciou uma trajetória de queda,
apresentando os valores mais baixos na virada do milênio. Nos primeiros anos do
terceiro milênio o índice subiu até 2008, caiu com a recessão de 2009 e voltou
a subir até 2011 e 2012, quando os preços dos combustíveis fósseis estavam
muito elevados. Entre 2013 e 2018, o Índice diminuiu, com a queda do preço do
petróleo, mas está em um patamar mais alto do que nas décadas de 1980 e 1990.
O relatório do GAP considerou
o impacto da mudança climática sobre a produção e os preços dos alimentos,
adotando 10 modelos diferentes, sugerindo que a mudança climática gerará preços
mais altos para commodities agrícolas em geral e particularmente para as
culturas de subsistência. O impacto do aquecimento global ter um efeito
negativo na oferta de bens essenciais.
O relatório também concluiu
que a média da Produtividade Total dos Fatos não cresceu de 2006 a 2015 tão
rapidamente quanto nas décadas anteriores. A Produtividade Total dos Fatores
considera os aumentos na produção agrícola, mas também os custos para os
agricultores produzirem alimentos, perdas e desperdícios na cadeia de fornecimento
e custos para os consumidores.
A fome global, impulsionada
por secas e conflitos, aumentou no ano passado, atingindo 821 milhões de
pessoas que foram consideradas cronicamente famintas pelas Nações Unidas. Cerca
de 124 milhões de pessoas enfrentaram desnutrição aguda e fome.
A Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou a campanha “Um mundo
#fomezero para 2030 é possível” nas comemorações do Dia Mundial da Alimentação
de 2018. Mas esta meta pode ficar somente no papel se não houver aumento da
produtividade e redução do ritmo de crescimento demográfico.
O fato é que a população
mundial continua crescendo e a biocapacidade do Planeta continua diminuindo. A
Pegada Ecológica, em 2014, estava 70% acima da biocapacidade da Terra. O modelo
de produção e consumo global é insustentável e o tripé da sustentabilidade
virou um trilema (Martine e Alves, 2015).
Relatório recomenda redução
do desperdício, do excesso de demanda por produtos de origem animal e mudanças
para o setor agrícola. “Seguir esta abordagem não é um luxo, é uma
necessidade”, diz Banco Mundial.
No longo prazo, só o
decrescimento demo econômico pode garantir o equilíbrio entre as demandas
humanas e a saúde dos ecossistemas. (ecodebate)
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