Florestas na Amazônia degradadas pelo fogo demoram
sete anos para recuperar suas funções, revela estudo.
Florestas
da Amazônia degradadas pelo fogo recuperam sua capacidade de bombear água para
a atmosfera e absorver carbono em sete anos. Mas o que se perdeu de carbono não
volta mais. As boas e as más notícias fazem parte de um novo estudo científico
publicado por pesquisadores do Brasil, dos Estados Unidos e da Alemanha na
revista Global Change Biology.
Os
cientistas analisaram dados de um experimento conduzido pelo IPAM (Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia) em uma fazenda em Mato Grosso. Nas áreas que
passaram por queimadas controladas, as árvores grandes sobreviventes ao fogo
sucumbiram rapidamente nos anos seguintes, porém mais fracas e vulneráveis a
doenças e rajadas de vento, especialmente nas bordas da mata.
“Essas
feridas na floresta podem deixar cicatrizes permanentes, com menos árvores e
carbono”, explica o principal autor do artigo, o brasileiro Paulo Brando,
do IPAM. Também nos anos seguintes a composição de espécies mudou, e gramíneas
invadiram o local.
A
partir do sétimo ano, os cientistas observaram uma mudança no quadro: aquela
área estava retirando tanto carbono da atmosfera e jogando umidade no ar quanto
antes do fogo. “Para se recuperar, as plantas trabalham muito rápido, tem muita
fotossíntese, por isso tiram muito carbono do ar e transpiram bastante”,
explica o pesquisador Michael Coe, do Instituto de Pesquisa de Woods Hole, nos
Estados Unidos, um dos autores do estudo. “Mas perdemos o carbono que estava
estocado nas árvores mais antigas”.
“Essas
feridas na floresta podem deixar cicatrizes permanentes, com menos árvores e
carbono”.
O
resultado mostra a importância de deixar áreas queimadas na Amazônia se
recuperarem, o que ajuda a estabilizar o clima local – na região do estudo,
sudeste da Amazônia, a estação seca é duas semanas mais longa do que 30 anos
atrás. “Poucos estudos documentaram a recuperação da floresta após distúrbios
múltiplos, o que ajuda a prever as trajetórias das funções florestais no
futuro”, diz a cientista Susan Trumbore, do Instituto Max Planck de
Biogeoquímica, coautora da pesquisa.
Brando
destaca que é preciso acompanhar as áreas queimadas por mais tempo, para saber
se elas vão se recuperar totalmente ou se a vegetação será um híbrido de
floresta com gramíneas – o que, por sua vez, deixar a área mais suscetível a
novos incêndios.
No
Brasil, o fogo é um instrumento usado corriqueiramente para limpar terrenos,
antes com floresta, plantio ou mesmo pasto. Na Amazônia, o fogo ocorre
naturalmente em determinada área acontece a cada 500 anos, no mínimo. Porém,
hoje algumas regiões queimam anualmente, ou com alguns anos de diferença,
devido à ação humana.
O
desmatamento e as queimadas são a principal fonte de emissão de gases do efeito
estufa no Brasil, o que intensifica as mudanças climáticas. (ecodebate)
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