Desde que o prêmio Nobel de
economia, Milton Friedman, escreveu em 1970, que a responsabilidade social dos
negócios é aumentar seus lucros, a confiança do público no capitalismo começou
a diminuir, principalmente com a crise financeira de 2008, exacerbando a
desigualdade da renda.
Assim sendo, para muitos o
capitalismo do século vinte não é mais viável, enquanto para outros é
irremediável, ao se perceber que o crescimento não pode ser alcançado ao custo
de destruição do planeta e da explosão das desigualdades sociais.
O grupo de países mais ricos
e industrializados, o chamado G7, que criou estas desigualdades sociais, deve
ter reconhecido a importância do tema, durante o recente encontro na França,
diante das inúmeras manifestações ocorridas durante o evento. Como membro do grupo,
o Presidente da França, Emanuel Macron, tem enfrentado inúmeras manifestações
organizadas pelos chamados “coletes amarelos”, que conseguiram unir esquerda,
direita e o apoio maciço da população francesa, apresentando várias exigências,
incluindo a renúncia do Presidente Macron. A velha França, como sempre, tenta
chamar a atenção do mundo, mostrando que o atual sistema capitalista está
falido e um novo modelo de capitalismo deve ser introduzido.
Neste sentido, o ministro das
finanças da França, Bruno Le Marie, conclamou, há poucos dias, uma transição
urgente para uma forma de capitalismo baseado na responsabilidade social,
diante da devastação ambiental, desigualdades sociais e o surgimento crescente
de sentimentos populistas em várias partes do mundo. De esquerda ou direita, o
populismo tem sido a desgraça do mundo. Em resumo, a França soou o alarme para
as economias avançadas do mundo, através do G7, no sentido de que o capitalismo
está se despedaçando, sendo ineficaz para atender aos objetivos do interesse
público. A experiência do movimento dos “coletes amarelos” deve ser refletida
pelos governantes do mundo inteiro.
Embora não merece muita
credibilidade, mas cerca de 180 empresas ultraliberais americanas também se
comprometeram recentemente por uma economia mais responsável. A pergunta é: O
capitalismo nos Estados Unidos está mudando? Pode ser que sim, mas é preciso
aguardar as decisões. Vale lembrar aqui o alerta do economista Joseph Stiglitz
de que a economia americana falhou em atender seus cidadãos, quando 90% deles
viram suas rendas se estagnarem ou declinarem durante os últimos 30 anos.
As vozes poderosas dos
capitalistas não devem ser ignoradas e eles devem liderar uma reforma do
capitalismo, partindo de seus vícios irrestritos para virtudes responsáveis,
evitando o acúmulo da riqueza nas mãos de poucos poderosos às custas da
maioria. Se for assim, os capitalistas responsáveis estão reconhecendo o
tremendo potencial que eles têm em melhorar o mundo enquanto restauram a
confiança e a legitimidade do sistema capitalista.
É possível que o clima
político nos Estados Unidos, através de um movimento notável da ala
progressista do Partido Democrata, junto com uma mudança do sentimento público,
tenha influenciado estas grandes corporações a proporem algumas mudanças de
comportamento. Os senadores Barnie Sanders e Elizabeth Warren, por exemplo, têm
feito críticas contundentes ao papel desempenhado pelas grandes corporações ao
perpetuar mudanças climáticas e oferecer péssimas condições de trabalho.
No caso de Sanders, um
socialismo democrático foi proposto através de uma taxação mais elevada dos
mais ricos para que estudantes tenham colégios e universidades grátis e a
população em geral serviços de saúde. Mesmo tendo se tornado um milionário com
a venda de dois livros, Sanders continua defendendo alta taxação para os mais
ricos. Por sua vez, a senadora Elizabeth Warren, que apresentou seu projeto de
lei, denominado de ato do capitalismo responsável, quer taxar os mais ricos
para distribuir com os mais pobres. Ambos fazem duras críticas a Wall Street
por financiar e eleger candidatos de preferência.
No Brasil são desconhecidas
iniciativas das empresas em relação a mudanças visando um capitalismo
responsável. Trabalhos sobre governança, responsabilidade social e iniciativas
sustentáveis destas empresas são quase inexistentes. Ademais, o modelo
econômico do Brasil, nos governos de esquerda, centro e direita, sempre foi o
do capitalismo selvagem, adotando uma política econômica subordinada ao mercado
financeiro ou grande capital, relegando as necessidades reais da sociedade.
Neste modelo, os capitalistas continuam saqueando a população de tal forma que
se tornou evidente para todos as relações imorais entre o poder das grandes
corporações, os métodos de corrupção e o capitalismo selvagem.
Pensar em sustentabilidade no
atual sistema capitalista do Brasil é uma ilusão, embora muitas corporações não
só no Brasil, mas em vários países confirmam em seus relatórios que estão
praticando a sustentabilidade. Como estão praticando a sustentabilidade se a
deterioração do planeta se torna cada vez mais evidente? A sustentabilidade
delas significa a continuação de seus negócios como sempre (business as usual).
Com um governo de
ultradireita liberal, predatório e uma esquerda ainda presa ao
marxismo-leninismo, torna-se urgente que partidos políticos da direita liberal
democrática, favoráveis a um social liberalismo e de uma esquerda em busca de
renovação, comecem a discutir um modelo econômico para o nosso país, na
esperança de que possamos sair deste capitalismo selvagem, cada vez mais
apoiado por políticas governamentais perversas.
O capitalismo está sempre se
reinventando e vale a pena aguardar o que vai acontecer nas economias
desenvolvidas. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário