sábado, 31 de agosto de 2024

Renováveis evitarão 2Gt de emissões até 2029

Renováveis evitarão 2Gt de emissões até 2029, aponta estudo.

Acordos como o de Paris tem incentivado países a manterem investimentos em fontes de geração limpa e renováveis.
De acordo com a pesquisa, esses avanços significam que a capacidade solar e a economia de CO2 resultante crescerão exponencialmente. O estudo projeta que o total de CO2 economizado pela energia solar crescerá em 58% entre 2024 e 2029, economizando 0,61 Gt até 2029.

Meta do Acordo de Paris pode ser cumprida se mundo chegar ao net zero, diz estudo da BloombergNEF

Estudo da BloombergNEF, apresentado com exclusividade à Exame, aponta que com fim das emissões na economia aquecimento global pode ficar em até 1,75ºC.

Aceleração das tecnologias limpas e a descarbonização são chaves para garantir que meta seja cumprida.

De acordo com um relatório da BloombergNEF, empresa de pesquisas sobre finanças energéticas, a aceleração das tecnologias limpas e a descarbonização são chaves para garantir que a principal meta do Acordo de Paris, de manter o aquecimento global abaixo dos 2ºC, seja cumprida.

O estudo Energy Outlook 2024, divulgado com exclusividade para a Exame, cria cenários para o aumento da temperatura global. No cenário de transição econômica, a redução nas emissões de CO2 — de 34 bilhões de toneladas para 25 bilhões —implicaria em manter o aquecimento global em 2,6ºC até 2050, acima da meta.

No cenário de Net Zero, com a redução das emissões a partir de 2025 até que sejam zeradas, o aquecimento global pode se manter em 1,75ºC até 2050, aponta o relatório. As mudanças no consumo e demanda de energia, transporte e indústria só ocorrerão com o aumento no curto prazo das tecnologias ligadas à energia limpa.

A pesquisa cita como ações necessárias para a transição ao cenário Net Zero a necessidade de triplicar a capacidade energética de fontes limpas e renováveis até 2030, as substituições dos veículos a combustão por carros elétricos até 2034 e o aumento das tecnologias de captura de carbono.

O cenário de transição econômica considera ainda a importância dos veículos elétricos, da energia limpa e a eficiência energética para reduzir as emissões. Se essas tecnologias não fossem incentivadas, as emissões seriam 50% maiores em 2050 e 27% maiores do que são hoje. A pesquisa considera que os combustíveis fósseis ainda exercem um papel significativo nos principais setores da economia, mas a demanda por gás cresce de forma modesta a partir da substituição por petróleo e carvão.

Renováveis foram 86% da energia nova no mundo em 2023

Cenário preocupante

Autor da pesquisa e chefe de economia na BloombergNEF, David Hostert conta que o cenário para manter a temperatura abaixo dos 2ºC está cada vez mais estreito. “Desde que atualizamos as previsões pela última vez há 18 meses, a transição energética acelerou, mas não o suficiente. O relatório deve ser um alerta de que precisamos de uma rápida redução das emissões para já”, explica.

O estudo aponta que garantir a “limpeza” do setor energético pode evitar metade das emissões de CO2 até 2050. A eletrificação dos setores de transporte rodoviário, edificações e indústria corresponde a uma diminuição de 25% das emissões. O restante, segundo a pesquisa, corresponde a parcela mais complexa: a utilização de biocombustíveis da aviação, hidrogênio verde, e a captura e armazenamento de carbono na indústria e energia.

Mas e se a tecnologia não for capaz de acelerar a produção sem emissões? Nesse caso, os pesquisadores consideram que os mercados passariam a utilizar energia renováveis mais baratas, como solar e eólica. Nesse cenário, o crescimento seria de 51% até 2030 e 70% até 2050.

O cenário da transição econômica, segundo a pesquisa, necessita de um investimento de US$ 181 trilhões, enquanto o Net Zero, de US$ 215 trilhões. (exame)

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Enchentes no RS disparam sinistros de seguro solar

Enchentes no RS disparam sinistros de seguro solar; eventos climáticos do tipo serão mais comuns.

De acordo com a Elétron Seguro Solar foram registrados 92 casos de sinistros só pela empresa, totalizando mais de R$ 1 milhão em indenizações. Os inversores são o principal item danificado. Meteorologista da Tempo Ok ouvido pela pv magazine explica o que torna o Rio Grande do Sul tão suscetível a eventos climáticos severos e quais os riscos futuros.
O desastre climático no Rio Grande do Sul, causado por fortes chuvas em abril, resultou em graves inundações, afetando 95% das cidades do estado e deixando milhares de pessoas sem energia. As usinas fotovoltaicas submersas sofreram danos ainda incalculáveis e a tragédia sublinha a importância de seguros para sistemas solares e de maior preparação para eventos climáticos extremos.

De acordo com a edição de julho do Placar de Sinistros feito pela Elétron Seguro Solar, empresa de Curitiba (PR) especializada em seguro solar, nunca existiram tantos pedidos de acionamentos de seguro de uma só vez como nesse período. Mesmo três meses após o desastre, a Elétron continua atendendo clientes do Rio Grande do Sul.

Até o início de agosto, foram registrados 92 casos de sinistros, totalizando R$1.018.004,12 em indenizações para esses casos. O balanço de sinistros reforça que os dados equivalem a um único estado do Brasil, e os valores representam uma parte significativa dos acionamentos: 32% do total de sinistros indenizados em 2024 foram do RS. O valor das indenizações chega a aproximadamente 22% do total incluindo outros estados, que estava em R$4.619.388,58 até o início de agosto.

Consumidores têm poucas opções de seguradoras em caso de eventos climáticos

A Elétron Seguro Solar cobre desastres climáticos, graças à sua parceria com a Essor Seguros, desde que o tema ainda não era discutido no setor. Segundo Mauro Brustolin Iplinski, sócio proprietário da Elétron, cerca de 60% dos clientes já foram indenizados, mas como este é um processo feito em etapas, ainda há sinistros na fila. Entretanto, ele garante que não existiram recusas nesse evento.

“A grande maioria dos casos foram de sinistros não tão severos. Tivemos sim alguns casos de perda total, mas a maioria foram sinistros de perda parcial, apresentando dano ao inversor. A água em si não danifica o módulo, o que existe de mais sensível na estrutura diante desse tipo de evento é o inversor. Por isso, o ticket médio do sinistro não chegou a um valor tão alto, totalizando cerca de R$ 9.500”, explica Iplinski.

O executivo também destaca que o crédito pode ser usado como o cliente bem entender, logo, é possível que muitos tenham escolhido dedicar o valor para reestruturar outras perdas. Porém, em setembro de 2023, a Elétron atendeu clientes que foram afetados por um evento no Vale do Taquari, e estes, que foram indenizados na ocasião dentro da mesma apólice, foram novamente indenizados pelos sinistros de 2024. Isto indica que muitos de fato utilizaram a primeira indenização para recuperar suas usinas.

Rio Grande do Sul se destaca como vítima constante de eventos meteorológicos

O Rio Grande do Sul está em 3º lugar no ranking de estados mais segurados pela Elétron, atrás apenas do Paraná e de São Paulo. O estado de Santa Catarina está em 4º lugar, e Minas Gerais, em 5º.

Ainda de acordo com a corretora, o estado do Rio Grande do Sul, em 2023, foi responsável por 44% das indenizações na Elétron. O principal evento foi o de vendaval, mas o estado vem sendo severamente castigado por diversos eventos climáticos nos últimos anos.

Para entender a razão por trás do histórico, a pv magazine conversou com Paulo Lombardi, meteorologista da Tempo Ok explica que a localização geográfica do Rio Grande do Sul foge à regra de outras regiões do país, em que as chuvas apresentam um caráter sazonal.

“No Brasil, temos diversas regiões em que chove bastante durante determinados períodos do ano. O Rio Grande do Sul, em particular, não funciona dessa maneira. No estado, não temos um mês do ano em que a média apresenta valores altos de precipitação, as chuvas são bem distribuídas ao longo do ano, apenas com singelos aumentos de frequência no mês de outubro. O sul do país está em uma área em que a circulação atmosférica pode favorecer eventos de chuva em qualquer época do ano, e essa sazonalidade mal definida dificulta a previsão de chuvas intensas”, afirma.

A Tempo Ok ainda explica que, diante do aumento da temperatura da Terra, os eventos que já ocorrem ganham intensidade. “Quando você pensa em mudança climática no Sul, diante da atmosfera mais quente, imagina que os volumes de chuva vão aumentar, mas o aumento não ocorre necessariamente na mesma frequência. Não vai chover o tempo inteiro, mas quando acontecer, ela pode acabar sendo cada vez mais intensa. Então, podemos ter mais eventos extremos no futuro”.

Micro explosões atmosféricas no Rio Grande do Sul geram indenizações

Usinas fotovoltaicas em São Luiz Gonzaga (RS)

Danos causados pelo micro explosão atmosférica

Em 15 de julho, a região de São Luiz Gonzaga, no Rio Grande do Sul, teve três usinas fotovoltaicas danificadas por um evento de micro explosão atmosférica. A Elétron atendeu os casos, que geraram três indenizações de R$ 90 mil cada.

O meteorologista explica que um micro explosão atmosférica ocorre quando uma nuvem está extremamente carregada, geralmente formada por uma corrente descendente de ar seco que adentra a nuvem. Com desenvolvimento vertical muito grande, a nuvem não suporta a própria densidade de água e acaba cedendo seu volume de uma só vez.

Quando esse volume muito intenso de água chega na superfície, o acúmulo faz a água divergir para todos os lados, e a rajada de vento pode ultrapassar 110 km/h.. Para as usinas solares, o vento intenso do micro explosão é o principal causador de danos severos.

Elétron relata que em 2023, vendaval era o principal causador de sinistros. Na sequência, havia o evento de roubo e furto. Com o alagamento no Rio Grande do Sul, este sinistro ultrapassou os casos de roubo e furto e se tornou o segundo evento que mais causa indenizações.

Aumento de sinistros acompanha o crescimento do setor solar no Brasil

O CEO da Elétron Seguro Solar relata que o número surpreendente de sinistros não está diretamente ligado a um aumento de eventos meteorológicos, mas sim ao crescimento do setor. “Eu trabalho com seguros desde 2008, e comecei a me aprofundar e desenvolver soluções de seguros para energia solar em 2019. No início de 2019, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), tínhamos no Brasil inteiro cerca de 50 mil sistemas fotovoltaicos. Era pouco, levando em consideração que hoje temos em torno de 2,7 milhões de sistemas instalados no país. Por isso, não é que em 2019 não aconteciam tantos vendavais, enchentes e chuvas de granizo. A questão é que existiam muito menos sistemas expostos aos riscos. Na época, o seguro ainda nem existia, estava apenas em fase de desenvolvimento”.

Isso vai de encontro com o mapeamento entidade, que destaca o Rio Grande do Sul como um dos três estados brasileiros com a maior potência instalada de energia solar na geração própria em telhados e pequenos terrenos. O território gaúcho responde sozinho por 9,6% da potência instalada no país, com mais de 302 mil conexões operacionais, espalhadas por 497 municípios.

De acordo com a Elétron, quando os primeiros seguros foram oferecidos, o custo era baseado no valor do sistema. Hoje, com o maior entendimento do risco de sinistros, diversas seguradoras estão aplicando reajustes no modelo de precificação, ou até mesmo deixando de oferecer o serviço para o setor de energia solar.

“Não é comum uma corretora de seguros se preocupar com isso, mas aqui na Elétron, contabilizamos todos os sinistros desde o início. Com esses dados, entendemos que um sistema instalado em solo é diferente de um sistema instalado no telhado, bem como existem riscos diferentes para a área rural e a área urbana. Logo, para não onerar os clientes, desde o início de 2024 a precificação aplicada na plataforma da Elétron leva em conta: o valor do sistema, o CEP em que ele está instalado, o tipo da estrutura (se é solo ou telhado), e o tipo de área da instalação (urbana ou zona rural) ”, explica Iplinski.

Tragédia do RS: Como as seguradoras estão lidando com o maior sinistro do setor

A tragédia no Rio Grande do Sul segue oferecendo lições valiosas para os players do setor fotovoltaico. Ela ressalta a urgência de adotar equipamentos mais seguros frente a eventos climáticos extremos, a relevância de contar com seguros solares para desastres naturais e a importância da colaboração do setor para reduzir os impactos nas usinas. (pv-magazine-brasil)

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Desenvolver novos negócios com hidrogênio verde e transição energética

Arcadis, CELA e Siemens fecham acordo para desenvolver novos negócios com hidrogênio verde e transição energética no Brasil.

Proposta é acelerar o desenvolvimento dos projetos e parcerias no setor, a partir da elaboração conjunta de estudos estratégicos e fornecimento de soluções tecnológicas no território brasileiro.
A Arcadis, líder global em engenharia e consultoria, a CELA (Clean Energy Latin America), empresa referência em assessoria financeira e consultoria estratégica na transição energética, e a Siemens, multinacional nas áreas de tecnologia para infraestrutura e indústria, com automação, software, tecnologia predial e eletro mobilidade, assinaram um acordo de cooperação para o desenvolvimento de novos negócios com hidrogênio verde (H2V) e transição energética no Brasil.

A proposta do acordo é unir os esforços das empresas para promover a economia verde e acelerar o desenvolvimento dos projetos e parcerias com o hidrogênio verde, a partir da elaboração de estudos estratégicos e fornecimento de soluções tecnológicas no território brasileiro.

Entre as áreas contempladas no acordo, destacam-se engenharia de aplicação para integração elétrica, automação e digitalização das plantas, estudos elétricos de conexão com grid e operação de usinas, além de fornecimento de equipamentos, serviços e soluções para distribuição de energia, automação e digitalização.

Também planeja atuar com consultoria e assessoria financeira, incluindo estudos de mercado, análise regulatória, estruturação de plano de negócios, análise financeira de investimentos, due diligence financeira, mapeamento de potenciais parceiros, levantamento de fontes de financiamento, análise de modelos de negócios, estratégia setorial, M&A e Project Finance.

Na prática, as três empresas apostam na potência do hidrogênio renovável como eixo estratégico de descarbonização dos setores produtivos, principalmente para reduzir as emissões de setores de difícil descarbonização, como fertilizantes nitrogenados, mineração, siderurgia, produção de metanol, de aço, transporte aéreo, marítimo e terrestre de veículos pesados, entre outros.

Arcadis, Cela e Siemens fecham parceria para novos negócios com H2V

“O Brasil possui um potencial único para liderar a produção e exportação de hidrogênio verde. Este movimento não apenas fortalecerá nossa economia, mas também abrirá portas para uma nova era de desenvolvimento sustentável”, comentou a diretora-presidente da Arcadis, Karin Formigoni.

A partir do desenvolvimento do hidrogênio verde, o Brasil pode fortalecer a sua reindustrialização verde, com a atração de novas fábricas, mais capital internacional, geração de empregos locais, novas 1ª publicação oportunidades de negócios e novas tecnologias, acrescenta a CEO da CELA, Camila Ramos. “Para o mundo atingir a neutralidade de emissões de gases de efeito estufa até 2050, o Brasil começa a fazer a sua parte e pode, inclusive, aproveitar uma grande oportunidade de acelerar seu desenvolvimento socioeconômico e ambiental, oferecendo produtos e serviços sustentáveis ao mundo”, diz.

“Nossa parceria com Arcadis e CELA visa impulsionar a inovação de maneira sustentável, com foco em moldar o futuro das nossas cidades e das cadeias de valor. Acreditamos que o desenvolvimento do hidrogênio verde no Brasil oferece oportunidades significativas para acelerar a descarbonização de setores produtivos de difícil redução de emissões com soluções tecnológicas para infraestrutura e distribuição elétrica, simulação com gêmeos digitais e integração ponta a ponta de toda infraestrutura energética e industrial, estamos prontos para contribuir ativamente para a reindustrialização verde do país, colocando o Brasil como um importante protagonista na transição energética global, oferecendo produtos e serviços sustentáveis ao mundo” conclui o diretor da área de Eletrificação e Automação da Siemens, Fábio Koga.

O Brasil na corrida pelo hidrogênio verde

Com esse acordo, Arcadis, CELA e Siemens reafirmam seu compromisso com a sustentabilidade e a inovação no Brasil, unindo suas competências para impulsionar a transição energética e fortalecer a posição do país no cenário global de energia renovável. A colaboração entre essas três gigantes visam não apenas a redução de emissões de gases de efeito estufa, mas também a promoção de um crescimento econômico sustentável, gerando empregos, atraindo investimentos e introduzindo novas tecnologias. Através do desenvolvimento e aplicação do hidrogênio verde, o Brasil tem a oportunidade de liderar uma nova era de reindustrialização verde, beneficiando tanto o mercado interno quanto a comunidade internacional. (pv-magazine-brasil)

domingo, 25 de agosto de 2024

Papel do Brasil na descarbonização dos transportes

Veículos elétricos, energia solar e mudanças climáticas: o papel do Brasil na descarbonização dos transportes.

Imagine que ao adquirir um carro novo, você garantisse, por toda a vida útil do veículo, a possibilidade de rodar mil km por mês sem custo de combustível. Imagine ainda que o carro, com pouquíssimo ruído, muita inteligência e tecnologia embarcadas, não emitiria CO2 ou qualquer outro gás de efeito estufa, nem poluentes. Bem-vindo à realidade do carro elétrico abastecido por geradores solares fotovoltaicos, que podem suprir toda a energia que esse veículo necessita ao longo de toda a sua vida e a um custo inferior a 5% do valor do carro.
Os veículos elétricos (VEs) existem há quase 200 anos e são anteriores aos motores de combustão interna. Eles já estavam em nossas estradas e trilhos muito antes de os carros acessíveis de Henry Ford revolucionarem as viagens. No entanto, como as baterias para abastecer os motores elétricos destes carros eram caras – ainda são, mas agora estão ficando rapidamente mais baratas – e proporcionavam pouca autonomia aos carros elétricos (ainda resultam em autonomias menores do que nos carros a gasolina, mas estão melhorando rapidamente), os carros a gasolina se estabeleceram e passaram a dominar as ruas e estradas.

Com a revolução industrial, a produção de energia elétrica e calor passaram a ser os principais responsáveis pelas emissões de CO2 do planeta, seguidos pelas emissões de veículos com motores a combustão. Por mais de um século os carros que queimam combustíveis fósseis vêm despejando quantidades crescentes de gases de efeito estufa e outros poluentes na atmosfera.

Nos últimos anos, no entanto, a produção barata de energia renovável a partir da geração solar e eólica, associada ao desenvolvimento tecnológico e uma consistente redução de custos das baterias com a produção em massa das baterias de íons de lítio, trouxe de volta o VE, que aparece como a solução para resolver ao mesmo tempo a questão das emissões de gases de efeito estufa responsáveis pelas mudanças climáticas e a poluição do ar nos grandes centros urbanos. Junto a isso, o VE é um carro muito melhor de dirigir do que um carro com motor a combustão e vem recheado de tecnologia.

De onde vem a energia para carregar um VE?

A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês para International Energy Agency) prevê a expansão do mercado de VEs de 16,5 milhões em 2021 para 350 milhões até o final desta década e com isso a expectativa de aumento do consumo de energia elétrica para os VEs em 2050 é 90 vezes maior do que o consumo atual.

De onde virá toda essa energia? Na maior parte do mundo, a produção de energia elétrica vem de fontes fósseis como o carvão e o gás natural, que emitem poluentes e CO2 e que por isso associam ao VE uma pegada de carbono que não pode ser desprezada. Não é o caso do Brasil. Por aqui, em 2023, mais de 93% de toda a eletricidade gerada veio de fontes renováveis como hidrelétricas, fazendas e telhados solares, parques eólicos e usinas a biomassa, o que confere ao VE que roda em nosso país um carimbo de sustentabilidade único em todo o planeta.

Com o compromisso mundial de descarbonização assumido na COP 28, o Brasil cumpre um papel importante em enfrentar o maior desafio da humanidade contemporânea. Isso é especialmente relevante em um contexto no qual os transportes representam quase um quarto das emissões globais de CO2 relacionadas com a energia.
Quanto tempo leva para carregar um VE?

Com a tecnologia atual, o carregamento da bateria do seu VE pode demorar entre 30 minutos ou até 12 horas – tudo depende do tamanho da bateria e da velocidade do ponto de carregamento (a potência do carregador). Mas alguns fabricantes de VEs afirmam que antes do final desta década você já poderá viajar até 1000 km e recarregar seu carro em apenas 10 minutos; a densidade energética das novas baterias de estado sólido será equivalente à da gasolina.

No Brasil, onde 82% da população mora em uma residência unifamiliar e onde quase sempre o VE pode ficar estacionado perto de uma tomada comum, deixar o seu carro carregando durante a noite uma ou duas vezes por semana enquanto você dorme parece ser um inconveniente menor do que parar num posto de gasolina para encher o tanque de um carro convencional. Carregadores de baixa potência, como os que vêm junto com alguns VEs, com potência menor do que 3 kW, ou até os “wall boxes” de 7 kW disponíveis no mercado para instalações residenciais, serão responsáveis por cerca de 80% das recargas de VEs no Brasil.

Baterias de segunda vida, reciclagem e economia circular

Para contornar o fato de que a autonomia de um VE ainda é menor do que a de um carro convencional, o que pode ser uma limitação séria em uma viagem de algumas centenas de km, existem carregadores rápidos, que podem ser instalados numa estação de serviço de autoestrada e que já podem hoje carregar o seu carro em cerca de 30 minutos. Para operar estes carregadores rápidos, é necessária uma infraestrutura de suprimento de energia elétrica bastante robusta e cara, pois um carregador rápido como o recentemente apresentado em São Paulo pela empresa BYD demanda até 180 kW por unidade.

Uma estação de serviço de autoestrada vai necessitar instalar vários destes equipamentos para que múltiplos usuários possam carregar seus VEs simultaneamente e isso leva a uma demanda da rede elétrica somente naquela estação de serviço que pode ser equivalente à demanda de vários quarteirões de casas em um bairro residencial – caro e inconveniente. Para contornar essa situação, os carregadores rápidos de alta potência instalados em estações de serviço nas estradas serão dotados eles próprios de baterias estacionárias. Estas baterias estacionárias atuarão como um pulmão de energia, para que o carregador rápido seja alimentado diretamente por elas, ao invés de diretamente pela rede elétrica pública.

Ao mesmo tempo, as vagas onde ficarão estacionados os VEs durante estas recargas rápidas nas rodovias serão cobertas por placas solares fotovoltaicas, que irão carregar as baterias estacionárias e injetar na rede elétrica pública qualquer excedente de energia caso essas baterias estacionárias estejam completamente carregadas. Durante a noite, quando não há geração solar, estas baterias estacionárias podem ser carregadas lentamente pela rede elétrica pública, que nestes horários normalmente é ociosa, garantindo o serviço de recarga rápida para VEs 24 horas por dia.
Este modelo já vem sendo testado no Laboratório de Energia Solar Fotovoltaica da Universidade Federal de Santa Catarina em parceria com a Nissan Automóveis do Brasil, utilizando as baterias de Li descartadas de veículos elétricos que já haviam rodado como táxis em São Paulo por cinco anos antes do descarte destas baterias.

O uso de baterias de Li descartadas de VEs em aplicações estacionárias é denominado de uso em segunda vida e acontece quando as baterias atingem 70 a 80% da capacidade de carga original, o que limita o seu uso em VEs, mas não é um problema nas aplicações estacionárias, tendo em vista que a qualidade da energia elétrica armazenada pelas baterias na segunda vida é a mesma daquela que se tem nas baterias novas.

Assim, o uso das baterias de VEs é estendida, antes que elas sejam finalmente destinadas à reciclagem, onde serão desmontadas para recuperar os componentes químicos que serão utilizados para produzir novas baterias. Este conceito de economia circular já é bastante utilizado e conhecido no Brasil, e o exemplo da reciclagem do alumínio das latinhas de cerveja e refrigerantes ilustra bem o conceito.

Veículos elétricos puros, veículos elétricos a hidrogênio, veículos a álcool, emissões de gases de efeito estufa e energia solar fotovoltaica

Quando o Brasil passou a utilizar o etanol nos motores a combustão e a tecnologia dos motores “flex fuel” se desenvolveu nos anos 1990, o álcool apareceu como uma alternativa interessante para limitar as emissões dos gases de escapamento, reduzindo a poluição ambiental dos grandes centros urbanos e os gases de efeito estufa. O argumento de que o mesmo CO2 emitido pelo escapamento de um veículo movido a álcool é capturado pela cana de açúcar no processo de fotossíntese, num ciclo de balanço zero, precisa também levar em conta que os processos de plantio, fertilização do solo, colheita e transporte da cana de açúcar também levam a emissões de CO2 (200 a 260 gCO2eq/litro de álcool) que não têm como serem abatidas em nenhuma etapa do processo.

Nos VEs, as novas demandas de energia elétrica resultantes precisam ser atendidas por fontes renováveis e livres de emissão, para que a expectativa de redução do impacto ambiental do setor de transportes seja cumprida. No Brasil toda a nova energia elétrica a ser utilizada pelos VEs deverá vir de fonte solar ou eólica, que são hoje as fontes mais baratas e as responsáveis por praticamente toda a expansão do parque gerador nacional. VEs a hidrogênio de pequeno e grande porte (ônibus e caminhões) também vêm sendo desenvolvidos para deslocamentos de grandes distâncias.

Para ter emissão zero, os VEs a hidrogênio terão o hidrogênio produzido por eletrólise da água. Neste processo, a energia elétrica, que é o principal insumo na produção de hidrogênio (a energia elétrica responde por 70% do custo da produção de hidrogênio), também precisa vir de fonte solar ou eólica. O hidrogênio pode também ser obtido através do processo de conversão de álcool e alguns fabricantes de carros apostam no veículo elétrico movido a etanol, onde a tecnologia de produção de hidrogênio está embarcada no veículo, produzindo em uma célula a combustível a partir deste hidrogênio toda a energia elétrica para alimentar o motor do VE híbrido flex.

A eficiência das diversas etapas da produção de hidrogênio a partir do etanol até fazer a roda do carro girar é equivalente à do motor a combustão utilizando etanol puro e pode ser ilustrada na figura abaixo. Em um hectare de cana de açúcar pode-se produzir anualmente no Brasil álcool o suficiente para que um carro flex a combustão utilizando etanol puro possa rodar cerca de 53.900 km por ano.

Se este mesmo etanol produzido em um ano a partir de um hectare de cana de açúcar for utilizado em um VE flex para produzir o hidrogênio que será utilizado pela célula a combustível embarcada nele para produzir a eletricidade que alimentará o motor elétrico, este VE vai rodar um pouco mais (55.000 km por ano). Mas se utilizarmos este mesmo um hectare de área para instalar placas solares fotovoltaicas para gerar eletricidade para carregar as baterias de um VE puro, a energia gerada anualmente vai possibilitar que este VE rode muito, muitíssimo mais (14.000.000 km por ano) do que qualquer uma das alternativas que utilizem o etanol.

Esta diferença parece absurdamente grande, mas é fácil de explicar: a eficiência da conversão fotovoltaica da energia do sol em energia elétrica é cerca de 100 vezes maior do que a da fotossíntese que converte a mesma energia do sol na biomassa que vai resultar no biocombustível (neste caso o etanol) e a eficiência do motor elétrico do VE é cerca de 3 vezes maior do que a do motor a combustão do carro a álcool. Multiplicando-se essas diferenças fundamentais de eficiência se chega nesta diferença surpreendente de rendimento. Contra as leis da Natureza não há muito o que fazer, razão pela qual todas as tecnologias de biocombustíveis podem ser consideradas tecnologias de transição, rumo à completa eletrificação dos transportes e das emissões zero.

A produção de biocombustíveis compete com a produção de alimentos e no Brasil tradicionalmente toda a vez em que o açúcar aumentou de preço nos mercados internacionais, os usineiros preferem produzir açúcar ao invés de álcool e o biocombustível aumento de preço.

Cobrir edificações com placas solares para gerar energia para todo o consumo de energia elétrica inclusive o dos VEs é pulverizar o país com pequenos geradores distribuídos, gerando energia junto ao ponto de consumo, sem ocupar nenhuma área adicional, pois as edificações oferecem ao mesmo tempo a estrutura e a área para a instalação das placas solares; ao mesmo tempo, a interface elétrica da edificação com a rede elétrica pública fornece a conexão do gerador solar com a rede.

E no inverno, meu VE vai diminuir sua autonomia com o frio?

Temperatura não é um problema no Brasil. No inverno que os países do hemisfério Norte passaram este ano, houve muita notícia sobre problemas dos proprietários de VEs quando as temperaturas desceram para baixo de zero. Filas nas estações de recarga públicas, carros parados nas vias porque a bateria descarregou mais intensamente do que no verão, empresas de locação de veículos rompendo contratos com fabricantes de VEs porque a autonomia dos carros elétricos locados não atendia os contratos. No Brasil as temperaturas são muito mais amenas e a redução de autonomia dos VEs no inverno da região Sul do país é pouco significativa.

O telhado que abriga o VE ao mesmo tempo gera toda a energia para ele

A média de deslocamento mensal dos carros no Brasil é de cerca de 1000 km por mês e eles passam a maior parte do tempo estacionados, ocupando uma vaga que tem em média 10 m2. Se a cobertura dessa vaga utilizar placas solares fotovoltaicas, é possível gerar mais de 200 kWh de energia elétrica por mês na média anual mesmo nas cidades menos ensolaradas do Brasil. Com essa energia um VE pode rodar entre 1000 e 2000 km todo o mês, dependendo do modelo do VE e do estilo de dirigir do condutor.

Na expectativa de apresentar o VE como um importante contribuinte para a mitigação do impacto ambiental do setor de transportes, imagine agora que ao comprar um VE você ganhe de brinde um gerador solar fotovoltaico para instalar no telhado da garagem onde este VE vai passar a maior parte do tempo estacionado e onde também vai ter a sua bateria carregada, ou então uma cota de um gerador solar fotovoltaico compartilhado. Com a redução massiva nos preços da tecnologia fotovoltaica, um gerador fotovoltaico que gere a energia para seu VE rodar entre 1000 e 2000 km por mês custa menos de 5% do preço do VE mais barato no Brasil (e ainda menos para os modelos de VE mais caros).

As próprias concessionárias de automóveis podem passar a oferecer esta opção aos seus clientes e para aqueles que moram em apartamentos, casa alugada ou que por qualquer motivo não podem ou não querem um telhado solar na sua residência, o mercado brasileiro já oferece opções de adesão ao que se chama de “geração compartilhada”, na qual o consumidor de energia pode compartilhar parte de um gerador fotovoltaico maior instalado em local distinto da sua residência e operado por uma empresa que oferece este serviço.

Desta forma, o custo por km rodado de um VE hoje é cerca de cinco vezes menor do que o de um carro a gasolina e na medida em que os preços dos VEs se alinharem com os dos veículos convencionais e a notícia se espalhar, os mecanismos de financiamento darão conta de oferecer a qualquer pessoa que esteja pensando em trocar de carro, a atrativa opção do VE.
Energia Solar e Mobilidade Urbana: O Papel Vital da Energia Solar na Ascensão dos Veículos Elétricos

Os Veículos Elétricos e as mudanças climáticas

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que o Brasil chegará à COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), a ser realizada em 2025, em Belém, com redução de emissão de carbono, redução do desmatamento e governança para ser considerado protagonista e referência no setor.

Promovendo a adoção em larga escala dos VEs de pequeno e grande porte (incluindo ônibus e caminhões), o Brasil estará em uma posição muito favorável para protagonizar a transição do setor de transportes rumo à eletrificação e à descarbonização, podendo gerar toda a energia elétrica de fonte solar e eólica necessária para o desenvolvimento sustentável da mobilidade elétrica e dando um exemplo ao mundo. (pv-magazine-brasil)

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Governos e indivíduos devem atuar com urgência para reverter calor extremo

Neste 1º de agosto “mais de 160 milhões de pessoas, cerca de metade da população dos Estados Unidos, estavam sob alerta de calor”

Declaração feita por climatologista português da Organização Meteorológica Mundial, Álvaro Silva, lista perturbações enfatizando efeitos em áreas como saúde e economia; análise do especialista destaca como a adaptação ao calor extremo precisa ser acelerada.

A redução de gases de efeito estufa é a resposta simples, mas de grande execução necessária para reverter o calor extremo de forma rápida segundo o especialista em clima da Organização Meteorológica Mundial, OMM.

Álvaro Silva disse à ONU News, de Lisboa, que duas ondas de calor consecutivas que atingiram a Antártida nos últimos dois anos contribuíram para temperaturas globais recordes. Mas destacou que esse é apenas o efeito visível.

Componentes do sistema climático

Numa visão geral sobre o impacto das ondas de calor e eventos extremos relacionados ele apontou fatores que estão contribuindo para temperaturas globais recordes.

“Este aquecimento global é apenas uma vertente visível das mudanças climáticas. A temperatura média global tem vindo a aumentar. Esteve na última década 1,2ºC acima dos valores pré-industriais. Este, mas há outros componentes do sistema climático que estão também a ser alterados e bastante alterados e impactados. É o caso do aumento do nível médio do mar, da acidificação do mar, do degelo e de glaciares e calotas polares e de outros exemplos. É claro que depois destes impactos há alterações bastante adversas em diferentes setores e ecossistemas”.

Em junho deste ano, estima-se que a extensão diária do gelo marinho na Antártida tenha sido “a segunda menor já registrada”, num fenômeno que se segue à observação da menor extensão na Antártida em termos de gelo marinho em 2023.
Nos últimos 20 anos, as mortes relacionadas ao calor na Europa aumentaram em cerca de 30%

Temperaturas recordes

As consequências de ondas de calor foram impactantes na América do Norte onde neste 1º de agosto “mais de 160 milhões de pessoas, cerca de metade da população dos Estados Unidos, estavam sob alerta”.

“Há uma série ações a nível de governos e individual que têm de ser levadas a cabo. O calor extremo é, de facto, um fator que gera perturbações graves na economia e na saúde da população e que tem que ser bastante atacado. A própria adaptação ao calor extremo tem que ser acelerada porque há um crescimento das ondas de calor, da intensidade, da duração e de eventos que acontecem fora do período típico”.

Álvaro Silva observou que julho foi o mais quente já registrado na Ásia, enquanto na África, as temperaturas recordes foram observadas no Marrocos como tendo tido "um impacto importante em termos de saúde humana e mortes".

As ondas de calor intensas no sul e sudeste da Europa também causaram vítimas e impactos severos na saúde. (news.un.org)

Calor mata mais de 175 mil por ano na região europeia

Calor mata mais de 175 mil pessoas por ano na região europeia, diz OMS.
As crianças expostas a ondas de calor são propensas a uma série de problemas de saúde, desde insolação a diarreia e baixo peso no nascimento.

Face

Clima e Meio Ambiente

Região observou aumento de 30% na mortalidade relacionada com altas temperaturas nos últimos 20 anos; os três anos mais quentes registados ocorreram desde 2020; stress térmico é a principal causa de morte, uma vez que agrava condições crônicas como doenças cardiovasculares, respiratórias e diabetes.

A região europeia é a que regista o aquecimento mais rápido das seis regiões cobertas pela Organização Mundial da Saúde, OMS, com as temperaturas subindo em um ritmo duas vezes maior que a taxa média global.

Em comunicado divulgado nesta quinta-feira, o diretor regional da OMS para a Europa, Henri Kluge, afirmou que os três anos mais quentes registados ocorreram desde 2020, e a década mais quente foi desde 2007.

Temperaturas insuportáveis

No final de julho, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, emitiu um apelo à ação contra o calor extremo em resposta aos impactos mortais do aumento das temperaturas em todo o mundo.

Em alguns locais, a crise climática está fazendo o calor chegar a níveis insuportáveis. As estimativas mostram que, a nível mundial, ocorreram em média 489 mil mortes relacionadas com altas temperaturas todos os anos entre 2000 e 2019.

A região europeia da OMS, composta por 53 Estados-membros, detém 36% dessas mortes, o que equivale a 175 mil vidas perdidas todos os anos.

O apelo do secretário-geral identifica quatro áreas de ação:  cuidado dos vulneráveis, proteção dos trabalhadores, aumento da resiliência das economias e das sociedades e limitação do aumento da temperatura global a 1,5°C.

Um menino bebe água durante uma onda de calor em Belgrado, Sérvia.

Stress térmico e impactos na saúde

Segundo Kluge, todas essas medidas são muito relevantes para a região europeia, onde, nos últimos 20 anos, houve um aumento de 30% na mortalidade relacionada com o calor.

O stress térmico é a principal causa de morte relacionada com o clima na região, pois os extremos de temperatura agravam as condições crônicas, incluindo doenças cardiovasculares, respiratórias e cerebrovasculares, saúde mental e condições relacionadas com a diabetes.

As temperaturas elevadas são um problema em particular para os idosos, especialmente aqueles que vivem sozinhos. Também pode representar um fardo adicional para as mulheres grávidas.

Planos de ação

Para aumentar a resiliência nesses países, a agência de saúde da ONU recomenda que sejam elaborados planos de ação no eixo calor-saúde, para melhorar a adaptação de comunidades.

Mais de 20 países da região europeia têm planos deste tipo em vigor.  Segundo a OMS, embora isto seja encorajador, não é suficiente para proteger todas as comunidades.

A OMS/Europa, através do Centro Europeu para o Ambiente e a Saúde em Bona, Alemanha, está desenvolvendo uma segunda edição atualizada das suas orientações para esses planos de ação.

Medidas simples para evitar fatalidades

O objetivo é proporcionar referências baseadas em evidências para que os governos nacionais e locais estabeleçam os seus próprios planos ou atualizem os existentes, para assim melhorar a gestão dos riscos térmicos.

Algumas medidas simples incluem evitar sair e realizar atividades extenuantes nos horários mais quentes do dia, passar de duas a três horas por dia em um local fresco, como um supermercado ou cinema, manter a casa fresca e o corpo hidratado.

Neste sentido, é importante evitar bebidas açucaradas, alcoólicas ou com cafeína devido ao seu efeito desidratante no corpo. (news.un.org)

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

2024 avança para ser o ano mais quente da história

2024 avança para ser o ano mais quente da história, aponta Copernicus.

Apesar de julho ter quebrado a série de 12 meses de recordes de temperatura, a expectativa é pessimista; efeitos das mudanças climáticas vão continuar por muito tempo até que emissões de GEE alcancem balanço zero.

De acordo com o serviço de monitoramento de mudanças climáticas da União Europeia, Copernicus, 2024 está a caminho de ser o ano mais quente da história, superando 2023. Em junho de 2024, o planeta registou o mês mais quente de sempre, superando o recorde de 2023. De janeiro a julho de 2024, as temperaturas globais foram 0,70ºC acima da média para o período entre 1991-2020. Em julho de 2024, as temperaturas foram 1,48ºC acima da média estimada para este mês durante o período pré-industrial de 1850-1900. Os dias 22 e 23 de julho foram os dois dias mais quentes do ano, com uma temperatura média de 17,6ºC.
Alerta: ao menos 10 países registraram temperaturas diárias superiores a 50ºC em mais de um local (AFP Photo)

O observatório do clima da União Europeia (UE) alertou em 08/08/24, que é "cada vez mais provável" que 2024 se torne o ano mais quente registrado na história.

O programa de observação do clima Copernicus (C3S) também destacou que o julho passado foi o segundo mais quente dos registros, com média de 16,91ºC no mundo.

A média é superada apenas, e por 0,04ºC, pelo mês de julho de 2023. O resultado quebra uma série de 12 meses em que o mundo bateu o recorde de temperatura registrado para aquele período do ano. "A série de meses recorde acabou, mas por um fio", declarou Samantha Burgess, vice-diretora do C3S.

"O contexto geral não mudou, nosso clima continua aquecendo", afirmou.

"Os efeitos devastadores da mudança climática começaram muito antes de 2023 e continuarão até que as emissões globais de gases do efeito estufa (GEE) alcancem o balanço zero", acrescentou.

De janeiro a julho de 2024, as temperaturas globais ficaram 0,70ºC acima da média para o período de 1991-2020.

Esta anomalia precisaria cair significativamente no restante do ano para não superar a temperatura de 2023, "tornando cada vez mais provável que 2024 seja o ano mais quente nos registros", afirmou o C3S.

Muito calor

A temperatura em julho de 2024 ficou 1,48ºC acima da média estimada para este mês durante o período pré-industrial de 1850-1900. O planeta teve neste mês os dois dias mais quentes já registrados, com temperatura média de 17,6ºC nos dias 22 e 23 de julho, destacou o observatório europeu.

A região mediterrânea foi afetada por uma onda de calor que, segundo os cientistas, teria sido "virtualmente impossível" sem o aquecimento climático. China e Japão registraram o mês de julho mais quente da história.

Ao mesmo tempo, um nível recorde de chuvas provocou inundações no Paquistão, um grande incêndio devastou amplas áreas do norte da Califórnia e o furacão Beryl deixou um rastro de destruição do Caribe até o sudeste dos Estados Unidos.

As temperaturas nos oceanos, que absorvem 90% do excesso de calor provocado pelas atividades humanas, também se aproximaram do recorde registrado no ano passado. A média na superfície do mar foi de 20,88ºC no mês passado, apenas 0,01ºC abaixo de julho de 2023.

Os cientistas do Copernicus destacam que "as temperaturas do ar acima do oceano permaneceram inusualmente (incomumente) elevadas em muitas regiões", apesar do fim do fenômeno meteorológico 'El Niño', que contribui para o aumento do calor, e da chegada de 'La Niña', que esfria o planeta.

Em 07/08/24 a secretária-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), a argentina Celeste Saulo, citou um ano de "ondas de calor generalizadas, intensas e prolongadas". "Ao menos 10 países registraram temperaturas diárias superiores a 50ºC em mais de um local. É muito calor para suportar", disse. (exame)

Solução para um setor em transformação

O agronegócio gera 21,5% do PIB brasileiro e é responsável por 27% das emissões do país. Novas tecnologias buscam mitigar efeitos das mudanças climáticas nos cultivos e empresas de energia solar estão de olho no segmento, que já representa 14% das instalações de GD no país.
As terras agrícolas nos estados brasileiros da Bahia e do Tocantins são amplamente cultivadas com soja.

Com linhas de crédito incentivado disponíveis e mais familiaridade com investimentos em tecnologia e equipamentos para melhorar seus custos de produção, o agronegócio é um segmento com diversas oportunidades para a geração solar.

O agronegócio é uma das principais atividades econômicas no Brasil, e deve representar 21,5% do PIB nacional em 2024, movimentando R$ 2,45 trilhões no ano, segundo estimativas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP, sendo R$ 1,65 trilhão no ramo agrícola e R$ 800,61 bilhões no ramo pecuário. As estimativas englobam insumos, maquinários e serviços do setor.

Ao mesmo tempo, o setor é responsável por 27% das emissões de gases do efeito estufa do país, de acordo com o estimativas do Observatório do Clima, que segue a metodologia proposta pelo IPCC. Do total de 2,3 bilhões de toneladas brutas de CO2 equivalente emitidas pelo país em 2022, 617 milhões de toneladas vieram do setor. Além disso, a principal fonte de emissões brasileiras, o desmatamento, que correspondeu a 48% do total com 1,12 bilhão de toneladas, está fortemente associada à mudança de uso da terra para novas pastagens e lavouras.

Justamente as mudanças climáticas são associadas à quebra de safra esperada para este ciclo, com previsão de queda do PIB do agronegócio em comparação com os R$ 2,67 trilhões de 2023. A influência do fenômeno El Niño no primeiro semestre teve como consequência a grave seca no Centro-Oeste e as tempestades sem precedentes no Sul, as regiões onde estão os maiores estados produtores de soja.

Nesse contexto, novas tecnologias como pivôs de irrigação alimentados por energia solar podem ajudar o setor a aumentar a sua produtividade diminuindo seu impacto ambiental. Além disso, o arrendamento de terras para usinas de energia solar desponta como uma alternativa rentável e sustentável, capaz de gerar renda para os donos da terra, em especial nos espaços de produtividade baixa ou nula, com iniciativas públicas e privadas para promover o modelo.

Atualmente, os consumidores rurais correspondem a 14,3% da potência instalada de energia solar fotovoltaica distribuída no Brasil, com 4,3 GW do total de 30,6 GW na modalidade, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) atualizados até junho. São 239 mil sistemas. Desse total, 1,2 GW foram instalados em 2023 e mais 500 MW foram instalados em 2024.

“A tecnologia fotovoltaica é extremamente versátil e pode ser utilizada, por exemplo, no bombeamento e na irrigação de água, na refrigeração de carnes, leite e outros produtos, na regulação de temperatura para a produção de aves, na iluminação, em cercas elétricas, em sistemas de telecomunicação, no monitoramento da propriedade rural, entre muitas outras funcionalidades”, diz o presidente do Conselho de Administração da Absolar, Ronaldo Koloszuk.

A nova edição do Plano Safra 2024-2025, divulgado em julho pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), prevê R$ 508,59 bilhões para investimentos em projetos no agronegócio, e pode impulsionar ainda mais essas instalações. Suas linhas para a sustentabilidade na produção agropecuária disponibilizam recursos e opções de financiamento para produtores rurais que buscam investir em energia solar.

Irrigação

Entre as principais soluções para aumentar a produtividade e reduzir os impactos do clima nas lavouras estão as tecnologias de irrigação. E a disponibilidade de energia elétrica é justamente uma das barreiras que limitam a expansão dessa tecnologia, principalmente por pivôs de irrigação.

“O empenho conjunto de governos ajudará a melhorar a infraestrutura, para que de fato os produtores consigam implementar e utilizar os equipamentos”, diz Eduardo Navarro, vice-presidente na Lindsay Corporation, fornecedora dos pivôs.

O potencial de crescimento dessas instalações em estados produtores é considerável. O Paraná, com quase 15 milhões de hectares de terras agrícolas, tem menos de 2% da área agricultável irrigada. Em São Paulo, o governo do estado tem a meta de aumentar em mais de 2 milhões de hectares as suas terras agrícolas irrigadas. Atualmente a irrigação cobre 6% da área de plantio e, para 2030, a meta é atingir 15%. Já o Mato Grosso tem atualmente 178 mil hectares irrigados e poderia expandir para até 3,9 milhões de hectares. No final de julho, o governo de Minas Gerais instituiu uma lei para aumentar a área de agricultura irrigada no estado, atualmente em torno de 15%, para algo em torno de 40% a 50%, de maneira sustentável.

No município de São Desidério, na Bahia, a fazenda Dom Perignon, do Grupo Sementec, dobrou a sua safra de soja com um sistema de irrigação movido por energia solar e reduziu em 70% seu consumo de diesel. O projeto foi viabilizado pela Loop Energia e é abastecido por oito poços artesianos, sete pivôs centrais e três piscinões de armazenamento com capacidade total de 600 milhões de litros de água, atendidos por uma rede interna e privada de média tensão de 34.5kV em uma distância de 21 km.

O sistema off-grid consiste em 1,2 MW de solar, com mais de 2 mil módulos bifaciais de 545 W da JA Solar, conectados a nove inversores da PHB, e cinco geradores a diesel, três de 700 kW e dois de 550 kW. Para controlar e gerenciar a tecnologia das redes inteligentes, foram utilizados os controladores da dinamarquesa Deif.

“Com mais de 900 hectares de plantação de soja, a fazenda abraçou a energia solar como um estímulo adicional para aumentar a produtividade e reduzir os custos de produção”, explica o CEO da Loop Energia, Luvânio Lopes. Antes, o gasto com diesel somava quatro mil litros por dia e baixou para mil litros/dia, representando uma economia de R$ 500 mil por mês. Além disso, a tecnologia smart grid possibilitou um aumento de produção de soja de 40 a 60 sacas por hectare para mais de 100 sacas por hectare por safra.

Outra fazenda produtora de soja e milho, no município de Guaíra, em São Paulo, instalou um sistema fotovoltaico de 37,26 kWp com 92 módulos fotovoltaicos para bombear a água do rio que passa ao lado e abastecer o pivô no cultivo da soja. Com a instalação do gerador solar, a economia mensal do produtor é de R$ 3 mil.

De acordo com diretor comercial da Evolve Energia Solar, Gabriel Ferrari, atualmente apenas um dos dois pivôs é acionado por energia solar, mas o retorno do investimento, em três anos, deve viabilizar a expansão do sistema para o outro pivô e outros equipamentos.
Do off-grid ao arrendamento para geração compartilhada, empresas de solar apostam no nicho agro

Com a disponibilização de recursos incentivados para o agronegócio, como as baixas taxas de juros, prazos e pagamento e carências estendidos, diversas empresas do setor solar passaram a mirar o segmento.

O Grupo MTR, que distribui e fabrica equipamentos para o setor solar, lançou recentemente em parceria com a fabricante de inversores GoodWe uma nova “Vertical Agro”, para oferecer soluções híbridas de energia para o agronegócio. O foco principal é o fornecimento de energia para pivôs de irrigação com um sistema fotovoltaico combinado com bateria. A solução levaria a uma redução significativa nos custos com irrigação, possibilitando uma economia de até 70% em comparação com o uso apenas de geradores a diesel.

“Com mais irrigação e otimização de processos, com o mesmo espaço de terreno poderão ser realizadas de 2 a 3 plantação a mais por ano, um ganho não só de energia mas operacional também. A MTR oferece todos os serviços ao produtor rural, desde a compra dos equipamentos como módulos, estruturas fixas, trackers até a entrega de toda estrutura no local”, diz o CEO da MTR, Thiago Rios.

Outro exemplo é a distribuidora de equipamentos Genyx, que criou em 2023 uma unidade de negócios com uma equipe dedicada e abordagem personalizada para o perfil desse segmento. “Empresas da capital querem vender por telefone, pelo whatsapp. Vamos primeiro no sindicato rural, de café de leite, nos aproximamos dos vendedores de outros equipamentos e insumos”, diz o diretor de Relações Institucionais da Genyx, Bruno Catta Preta, sobre a abordagem personalizada. “O produtor não quer um power point no email dele, quer tomar um café, conversar olho no olho. Também não se assusta com um investimentos de R$ 700 mil, R$ 800 mil, porque está acostumado a ter gastos com equipamentos caros como pivôs, caminhões, colheitadeiras”, comenta o executivo, acrescentando que os pivôs de irrigação, por exemplo, são equipamentos caros e que muitas vezes a rede da concessionária não consegue manter ligados.

Além disso, a baixa qualidade da rede de transmissão de energia elétrica que chega às propriedades rurais pela rede das concessionárias é um incentivo para adoção não só de sistemas solares como também de armazenamento com baterias.

“As linhas de distribuição no segmento rural são uma linha longa e quase sempre única. São poucas conexões que estão propensas a grandes oscilações, já que percorrem grandes distâncias e com baixa densidade de consumidores por km. A manutenção também é mais complexa, a qualidade da energia elétrica é pior do que em grandes centros urbanos e é comum a incidência considerável de distúrbios elétricos. Em alguns casos, essas propriedades podem ficar até um dia e meio ‘no escuro’”, diz o gerente sênior de Marketing de Produto da Growatt, Silvio Robusti.

A companhia forneceu os inversores para um sistema solar off-grid 23,76 kWp instalado em um sítio no município de Tatuí, no interior de São Paulo, que possibilitou o início da perfuração de um poço artesiano para acesso à água potável e a construção de duas casas no local. O sistema conta com quatro baterias de lítio Dyness de 9,6 kWh e 54 módulos fotovoltaicos monocristalinos com potência de 440W da JinkoSolar.

Já o Projeto 3 Marias, desenvolvido pela Orion-E em parceria com a BYD é voltado para a produção e entrega de energia solar por meio do arrendamento de terras do pequeno produtor rural para a instalação de usinas fotovoltaicas. A BYD é responsável pela construção das usinas, acionando empresas integradoras credenciadas, e a Orion-E é responsável pela locação para o cliente final. O arrendamento pode elevar a renda das famílias em até 40%, com contratos por um período de até 30 anos, com potencial de alcançar parte dos quase 4 milhões de produtores rurais inscritos na agricultura familiar espalhados por todo o território brasileiro.

Outro projeto, o Plante Solar, da startup Agrosolar, será responsável pela entrega de 10 pequenas usinas de 25 kW em pequenas propriedades, para suprir a demanda do poder público do município de Tanque D’arca, Alagoas. O projeto inclui ainda a instalação de mais 3 kW para atender a demanda interna dos produtores rurais.
Agrovoltaica em projetos pilotos no Brasil

Além das aplicações de solar para abastecer a produção e equipamentos rurais, quando a geração solar ocorre na mesma área em que o cultivo ou a pastagem são feitos, com os painéis instalados acima do solo e de forma a otimizar o microclima abaixo para as culturas específicas, a solução é chamada de Agrovoltaica ou Agrivoltaica.

Essa configuração já está sendo testada em projetos de P&D no país. A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), está instalando em uma área 300 m², um sistema fotovoltaico de 33 kWp que ficará entre 2,8 e 3 metros acima do solo. O projeto tem duração total de quatro anos, orçamento de R$ 1,5 milhão, e apoio da Fapemig, a fundação de amparo à pesquisa de Minas Gerais.

“Apesar de o Brasil ter grande extensão territorial, as áreas mais propícias para geração fotovoltaica são as mesmas que são mais propícias para desenvolvimento de culturas. Pode existir uma disputa futura entre áreas para cultivo de alimento e de geração solar e o que a gente quer é otimizar o uso da terra. Já há relatos de produtores rurais que não se interessam em instalar energia solar porque isso inviabiliza o uso da terra para plantio. Por isso a gente acredita no potencial do sistema”, diz a pesquisadora Polyanna Mara de Oliveira.

O projeto piloto será instalado no campo experimental da Epamig no Projeto Jaíba, que é o maior perímetro de irrigação pública da América Latina e reúne diversos agricultores.

Já o Grupo de Pesquisa Estratégica em Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina (Fotovoltaica UFSC) instalou em seu campus um sistema agrovoltaico de 100 kW com recursos da Repsol, através do programa de P&D da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP), que utiliza painéis fotovoltaicos desenvolvidos no Brasil pela BYD mirando aplicações no agronegócio e na arquitetura. (pv-magazine-brasil)

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