segunda-feira, 29 de setembro de 2025

O calor extremo que ameaça as salas de aula

A exposição prolongada ao calor extremo pode causar desde desconforto térmico e desidratação até doenças cardiovasculares e respiratórias mais graves. Em casos extremos, pode levar à exaustão térmica, insolação e morte.
Europa já debate adaptação climática escolar enquanto Brasil mantém inércia perigosa

Ondas de calor afetaram 242 milhões de estudantes globalmente em 2024, mas escolas brasileiras seguem sem infraestrutura adequada para enfrentar temperaturas extremas que podem ultrapassar 40°C.

Enquanto a Europa desperta para a necessidade urgente de adaptar suas escolas às ondas de calor cada vez mais intensas, o Brasil permanece em um silêncio perigoso diante de um desafio que já bate à nossa porta.

A questão não é mais se as mudanças climáticas afetarão nossas crianças e professores nas salas de aula, mas quanto tempo ainda levaremos para agir.

Na Itália, onde apenas 6% das escolas possuem ar-condicionado, o debate sobre adaptação climática escolar ganhou contornos de política pública. A Sardenha convocou discussões nacionais sobre o tema, reconhecendo que “o clima mudou e não podemos continuar com a infraestrutura escolar de 50 anos atrás”. França, Espanha e Inglaterra seguem caminhos similares, repensando não apenas a infraestrutura física, mas também calendários e horários escolares.

O cenário brasileiro, contudo, revela uma inércia preocupante. Apesar de enfrentarmos ondas de calor de severidade crescente e temperaturas que frequentemente ultrapassam os 40°C em várias regiões, a discussão sobre adaptação escolar às mudanças climáticas é praticamente inexistente.

Ondas de Calor e Educação: Impactos e Estratégias para enfrentar o calor nas Escolas

Nossas prefeituras, historicamente omissas no combate ao aumento das temperaturas urbanas e à formação de ilhas de calor, estendem essa negligência às instituições de ensino.

As consequências dessa inação são alarmantes. A exposição prolongada ao calor extremo pode causar desde desconforto térmico e desidratação até doenças cardiovasculares e respiratórias mais graves. Em casos extremos, pode levar à exaustão térmica, insolação e morte.

Crianças e idosos – grupo no qual se enquadram muitos de nossos professores – são particularmente vulneráveis a esses efeitos.

As ondas de calor já matam mais de 150 mil pessoas anualmente no mundo. No Brasil, a inadequação de nossa infraestrutura urbana intensifica esses efeitos, comprometendo não apenas a saúde pública, mas também a qualidade da educação. Como esperar que estudantes e professores mantenham o rendimento em salas abafadas, com temperaturas que podem ultrapassar os 35°C?

A urbanização desordenada, a falta de planejamento urbano sustentável e a escassez de áreas verdes em nossas cidades agravam exponencialmente o problema. O resultado é um sistema educacional cada vez mais pressionado por condições ambientais adversas, enquanto o sistema de saúde enfrenta sobrecarga crescente devido ao aumento de internações relacionadas ao calor.

A adaptação climática das escolas não é apenas uma questão de conforto, mas de direitos fundamentais: à educação, à saúde e à vida. Envolve desde a instalação de sistemas de refrigeração adequados até o redesenho de espaços escolares com mais ventilação natural, áreas verdes e materiais construtivos apropriados. Inclui também a revisão de calendários escolares e a criação de protocolos de emergência para dias de calor extremo.

O momento de agir é agora. Não podemos esperar que tragédias nos forcem a despertar para uma realidade que a ciência já comprovou e que nossos termômetros confirmam diariamente. A Europa nos mostra que é possível e necessário repensar a educação em tempos de mudanças climáticas.

Salas de aula ou sauna???

A pergunta que fica é simples, mas urgente: quando o Brasil começará a proteger verdadeiramente suas crianças e professores dos efeitos do aquecimento global?

Nossas escolas – e nossas futuras gerações – não podem mais esperar por uma resposta. (ecodebate)

Mudança da estrutura etária e o Índice de Envelhecimento

A estrutura etária da população brasileira tem mudado de forma significativa, com um aumento expressivo de idosos (60 anos ou mais) e uma diminuição do percentual de jovens, resultando num alargamento do topo e um estreitamento da base da pirâmide etária. Essa transformação é refletida no Índice de Envelhecimento, que em 2022 atingiu 55,2 idosos para cada 100 crianças (0-14 anos), um valor que cresceu mais de 80% desde 2010. Essa mudança demográfica impõe desafios e impulsiona a necessidade de novas políticas públicas para lidar com as demandas de uma população cada vez mais envelhecida.

Indicadores da Mudança Estrutural

Aumento de Idosos: A população com 60 anos ou mais quase duplicou entre 2000 e 2023, passando de 8,7% para 15,6% da população.

Crescimento da Idade Média: A idade média da população brasileira aumentou de 28,3 anos em 2000 para 35,5 anos em 2023.

Diminuição de Jovens: A proporção de jovens (abaixo de 30 anos) caiu de 49,9% em 2012 para 43,3% em 2022.

Pirâmide Etária Modificada: A pirâmide etária do Brasil mostra um topo mais largo (mais idosos) e uma base mais estreita (menos jovens).

Índice de Envelhecimento

Definição: O índice de envelhecimento mede a proporção de idosos (geralmente 65 anos ou mais, mas pode incluir 60 anos ou mais) em relação ao número de crianças (0 a 14 anos).

Valores no Brasil: Em 2022, o índice foi de 55,2 idosos para cada 100 crianças, demonstrando um aumento significativo desde 2010, quando o índice era de 30,7.

Impactos e Desafios

Necessidade de Planejamento: O envelhecimento da população exige um planejamento estratégico e políticas públicas inovadoras para garantir a inclusão, equidade e prosperidade para todas as gerações.

Demanda por Serviços: Aumenta a necessidade de serviços e centros de convivência para idosos em todas as regiões, bem como suporte para o envelhecimento ativo e saudável.

Aproveitamento do "Bônus Demográfico": A mudança pode afetar o chamado "bônus demográfico", um período de oportunidade econômica em que a população em idade economicamente ativa é maior.

Fatores por Trás da Mudança

Aumento da Expectativa de Vida: A expectativa de vida da população brasileira tem aumentado, contribuindo para a presença de mais idosos.

Redução da Natalidade: O aumento do índice de envelhecimento está relacionado a uma redução das taxas de fecundidade e natalidade.

Migração: A migração de jovens para cidades maiores em busca de emprego e educação é um fator que contribui para o envelhecimento de cidades menores.

Mudança na estrutura etária brasileira: população idosa aumenta e percentual de jovens diminui

O envelhecimento populacional em 2100 é uma realidade que exige planejamento estratégico e políticas públicas inovadoras

O mundo está passando por uma profunda mudança na estrutura etária que ocorre no longo prazo. Para se medir este processo um dos indicadores mais utilizados é o Índice de Envelhecimento (IE). O gráfico abaixo mostra o IE ((60+/0-14) *100) para o mundo e alguns países selecionados. Em 1950, o IE do mundo era de 23 (60 anos e mais) idosos para cada 100 jovens (0-14 anos) e passou para 88 no ano 2000. Portanto, havia mais crianças e adolescentes (0-14 anos) do que idosos no século passado.

Mas a situação está mudando com o avanço do envelhecimento populacional e, pela primeira vez na história, o IE global será de 107 idosos para cada 100 crianças e jovens em 2050 e 180 em 2100. Ou seja, haverá 1,8 vezes mais idosos no topo da pirâmide no mundo do que jovens na base da pirâmide.

No Brasil os jovens eram maioria no século passado, mas os idosos (60+) vão ultrapassar os jovens (0-14) em 2029, chegarão a 200 idosos em 2050 e 323 em 2100. Ou seja, haverá 3,2 vezes mais idosos no topo da pirâmide no Brasil do que jovens na base da pirâmide no final do atual século.

Mas a grande inversão irá acontecer em Hong Kong que tinha mais jovens do que idosos no século passado e deve chegar em 2100 com 12,9 vezes mais idosos (60+) do que jovens (0-14).

Dos países do gráfico, somente o Níger continuará com uma estrutura relativamente rejuvenescida no século XXI. O IE do Níger era de 3 em 1950, passou para 8 no ano 2000, deve ficar em 16 em 2050 e 86 idosos para cada 100 jovens em 2100. Portanto, a população nigerense vai envelhecer, mas em ritmo bem mais lento do que a média mundial.

A expectativa de vida ao nascer no mundo era de 46,4 anos em 1950 e deve chegar 81,7 anos em 2100. Desta forma, o envelhecimento atingirá de forma diferente as diversas gerações.

• Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964): Cresceram no pós-guerra, valorizando o trabalho árduo, a estabilidade e a lealdade às empresas. Embora mais distantes da tecnologia em suas origens, muitos têm se digitalizado para melhorar sua qualidade de vida. A expectativa de vida no nascimento dos Baby Boomers estava pouco acima de 50 anos e grande parte deve sobreviver até a década de 2030.

• Geração X (nascidos entre 1965 e 1980): Acompanharam a transição para a era digital, valorizando o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, a flexibilidade e a autonomia. São multitarefas e se adaptam rapidamente às novas tecnologias. A expectativa de vida no nascimento da Geração X estava pouco abaixo de 60 anos e grande parte deve sobreviver até a década de 2050.

• Geração Y (Millennials – nascidos entre 1981 e 1996): A primeira geração a crescer com a internet amplamente disponível. Possuem habilidades digitais avançadas, valorizam a autenticidade, o desenvolvimento pessoal e buscam ambientes de trabalho inclusivos e colaborativos. A expectativa de vida no nascimento da Geração Y estava em torno de 65 anos e grande parte deve sobreviver até a década de 2070.

• Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012): Nativos digitais, cresceram com smartphones e redes sociais. São realistas, preocupados com questões globais, valorizam a diversidade e tendem a ter uma mentalidade empreendedora. A expectativa de vida no nascimento da Geração Z estava próxima de 70 anos e grande parte deve sobreviver até a década de 2080.

• Geração Alpha (nascidos a partir de 2013): Essa geração está crescendo em um mundo cada vez mais digital e tecnológico. Devem ser influenciadores nas compras da casa e prezarão ainda mais pela experiência e hábitos de consumo digitais. A expectativa de vida no nascimento da Geração Alpha estava acima de 70 anos e grande parte deve sobreviver até o início do século XXII.

População: Mundo 2025

As projeções indicam que, em 2100, a expectativa de vida média de Hong Kong pode ultrapassar os 95 anos. Essa longevidade é um triunfo da humanidade, mas também implica em uma significativa mudança na pirâmide etária. Essa transição demográfica apresenta diversos desafios para os países: como no sistema de saúde, na previdência social, no mercado de trabalho, nas infraestrutura e planejamento urbano e no combate ao etarismo.

Apesar dos desafios, o envelhecimento populacional também gera oportunidades significativas:

Economia da Longevidade: A crescente demanda por produtos e serviços voltados para a terceira idade impulsiona setores como saúde (telemedicina, geriatria), cuidados de longo prazo, turismo sênior, tecnologia assistiva e bem-estar.

Capital Humano Experiente: Idosos representam uma vasta fonte de conhecimento, experiência e sabedoria que pode ser aproveitada no mercado de trabalho, na mentoria de jovens profissionais e no voluntariado.

Novos Modelos de Negócio: Surgem oportunidades para empresas que desenvolvem soluções inovadoras para as necessidades da população idosa, como moradias adaptadas, programas de educação continuada e plataformas de conexão social.

Fortalecimento da Comunidade: O engajamento dos idosos em atividades sociais e voluntárias pode fortalecer os laços comunitários e promover um envelhecimento ativo e participativo.

A Geração Alpha será a mais impactada pela crise climática, pois passará a maior parte de suas vidas em um planeta com os efeitos mais severos das mudanças climáticas.

Isso se traduzirá em uma série de desafios e mudanças significativas em suas vidas. Do sucesso da Geração Alpha dependerá o sucesso da humanidade no século XXII.

Em suma, o envelhecimento populacional em 2100 é uma realidade que exige planejamento estratégico e políticas públicas inovadoras. Ao invés de apenas focar nos desafios, é crucial enxergar as oportunidades que essa mudança demográfica oferece para construir sociedades mais inclusivas, equitativas e prósperas para todas as gerações. (ecodebate)

sábado, 27 de setembro de 2025

Grandes empresas fósseis contribuíram em dezenas de ondas de calor

180 grandes empresas fósseis contribuíram para dezenas de ondas de calor globais.

Grandes petrolíferas intensificaram 213 ondas de calor mortais neste século, revela estudo histórico.

Uma análise científica inovadora demonstra pela primeira vez que 180 empresas produtoras de combustíveis fósseis contribuíram diretamente para o agravamento de centenas de ondas de calor que causaram milhares de mortes.
Cada onda de calor recebe uma categoria com base em sua variação de intensidade (cor) e razão de probabilidade (barras verticais em porcentagem) em relação ao período de 1850 a 1900. Nas Figuras a–c, os eventos são categorizados de acordo com o ano em que ocorreram: 78 ondas de calor atribuídas ao período de 2000 a 2009 (a), 54 ondas de calor atribuídas ao período de 2010 a 2019 (b) e 81 ondas de calor atribuídas ao período de 2020 a 2023 (c).

Novo estudo publicado na revista Nature revela que as emissões de 180 grandes empresas de combustíveis fósseis e cimento foram responsáveis por um em cada seis dias de ondas de calor entre 2000 e 2023, agravando o problema das mudanças climáticas e aumentando a intensidade e probabilidade desses eventos extremos. A pesquisa, que analisou a contribuição das cadeias de valor dessas companhias, também indicou que as 14 maiores empresas do setor são tão impactantes quanto as outras 166 combinadas, e que este estudo pode fortalecer ações legais contra os poluidores.

Principais descobertas do estudo:

Impacto em ondas de calor: As emissões dessas 180 empresas contribuíram significativamente para a intensidade e probabilidade de dezenas de ondas de calor globais.

Proporção do impacto: As emissões dessas empresas correspondem a cerca de 50% do aumento da intensidade das ondas de calor neste século.

14 maiores empresas: As 14 maiores empresas do setor têm um impacto equivalente ao das outras 166 somadas, com a ExxonMobil sozinha sendo responsável por ondas de calor que não ocorreriam naturalmente.

Conexão legal: A ligação direta entre as emissões dessas empresas e a intensificação de ondas de calor, evidenciada por este estudo, pode fortalecer a base científica para ações judiciais contra elas em todo o mundo.

Cadeias de valor: A análise levou em consideração as emissões de toda a cadeia de valor das companhias, incluindo o uso final dos produtos pelos clientes.

Exemplos de empresas incluídas: Saudi Aramco ; ExxonMobil ; Shell ; Chevron ; BP ; Petrobras ; Gazprom ; Pemex ; National Iranian Oil Company

Contexto: Este estudo representa um avanço importante na ciência de atribuição do clima, fornecendo uma conexão mais clara e sistemática entre as emissões de empresas específicas e a ocorrência de eventos climáticos extremos como as ondas de calor. As descobertas oferecem um argumento sólido para que as empresas de combustíveis fósseis sejam responsabilizadas pelos danos causados pelas mudanças climáticas, como destacado pelo Center for Climate Integrity.

Pesquisa atribui emissões de grandes empresas fósseis a 213 ondas de calor em todo o mundo. Petrobras e Vale estão na lista das “carbon majors“

Um estudo publicado hoje na revista científica Nature conecta diretamente as emissões das 180 maiores empresas de combustíveis fósseis — as chamadas carbon majors — a 213 ondas de calor registradas entre 2000 e 2023, que se tornaram mais prováveis e mais intensas devido às mudanças climáticas.

Entre elas está o episódio de fevereiro de 2010, que atingiu Nova Lima (MG), Santos (SP) e Rio de Janeiro (RJ), com temperaturas acima de 39°C e 32 mortes atribuídas ao calor extremo. Segundo a pesquisa, sem a influência da mudança climática, o evento teria sido “virtualmente impossível”.

Além do Brasil, o estudo destaca casos no Canadá. A onda de calor que atingiu o Quebec, entre junho e julho de 2018, tornou-se cinco vezes mais provável por causa das emissões fósseis. No verão de 2021, a onda de calor na Colúmbia Britânica, com temperaturas até 20°C acima do normal, se tornou o evento climático mais mortal da história do país, causando 619 mortes.

No conjunto de dados, aparece o peso de empresas brasileiras. O estudo estima que, em um cenário simulado onde apenas a Petrobras existisse, 50 das 213 ondas de calor teriam sido resultado de suas emissões. Para a Vale, seriam 38 episódios, incluindo o de 2010. Embora não tenham causado esses eventos sozinhas, os cenários simulados mostram que, mesmo se apenas suas emissões existissem, as ondas de calor ainda ocorreriam — sinal do peso significativo de suas contribuições para a crise climática global.

“Esta pesquisa é um passo importante rumo à responsabilização. Ela mostra mais uma vez que mudanças perigosas em eventos climáticos podem ser diretamente ligadas às emissões de empresas específicas de combustíveis fósseis”, ressaltou Friederike Otto, pesquisadora do Centre for Environmental Policy do Imperial College London. “Muitas dessas carbon majors já sabiam, desde a década de 1970, que a queima de combustíveis fósseis estava aquecendo o planeta. Em vez de mudar seus modelos de negócios para energias renováveis, elas enganaram o público sobre os perigos de seus produtos e fizeram lobby com governos para manter o mundo dependente dos fósseis”.

Entre 2000 e 2019, quase 500 mil pessoas morreram em decorrência de calor extremo ao redor do mundo – muitas dessas mortes atribuídas diretamente à mudança climática. No Brasil, estima-se que 48 mil pessoas morreram em decorrência de ondas de calor entre 2000 e 2018.
Um estudo recente demonstrou a responsabilidade de grandes empresas petrolíferas na intensificação de mais de 200 ondas de calor mortais.

Repercussão política e jurídica

A pesquisa pode ter impacto relevante na litigância climática. Em julho, a Corte Internacional de Justiça reconheceu que ações de governos que agravam a crise climática violam o direito internacional, abrindo caminho para reparações também por parte de empresas.

O Tribunal Superior de Hamm, na Alemanha, estabeleceu que emissores corporativos de gases de efeito estufa podem ser responsabilizados por danos climáticos. Nos EUA, estados como Nova York e Vermont já aprovaram leis de superfund climático para cobrar custos de adaptação de empresas fósseis, e outros dez estados discutem legislações semelhantes.

“Agora podemos apontar para ondas de calor específicas e dizer: ‘A Saudi Aramco fez isso. A ExxonMobil fez isso. A Shell fez isso’. Quando as emissões dessas empresas, sozinhas, estão provocando ondas de calor que não teriam acontecido de outra forma”, salientou Cassidy DiPaola, porta-voz da campanha Make Polluters Pay. “Aqui está a evidência que os tribunais estavam esperando. Agora podemos dar nome e número a quem é responsável por esses desastres.

Segundo os autores, o levantamento reforça que empresas como Petrobras e Vale sabiam há décadas sobre o impacto de suas atividades no aquecimento global, mas seguiram ampliando a produção, freando políticas de transição e financiando campanhas de desinformação.
Pela primeira vez, cientistas identificam relação direta entre petrolíferas e ondas de calor

Como o peso das empresas foi calculado

Os pesquisadores aplicaram, de forma sistemática, um modelo de atribuição de eventos extremos em todos os registros de ondas de calor no banco EM-DAT entre 2000 e 2023 – 226 no total, dos quais 213 foram selecionados. Essa base de dados é a mais abrangente sobre desastres, mesmo que ainda subnotifique ocorrências em alguns países, sobretudo na América Latina, incluindo o Brasil. Isso indica que o impacto real pode ser ainda maior do que o registrado no levantamento.

O estudo combina dados observacionais (ERA5 e BEST) com modelos de sistemas terrestres, avaliando dois fatores:

- Mudança na intensidade do calor (quantos graus mais quentes ficaram os eventos devido à mudança climática);

- Probabilidade relativa (quantas vezes mais provável cada onda de calor se tornou em comparação ao clima pré-industrial).

Os dados de emissões de 180 companhias de petróleo, gás, carvão e cimento foram extraídos de registros de produção e fatores de emissão, considerando CO₂ e metano. O modelo climático OSCAR foi usado para estimar o aquecimento global causado por cada empresa desde 1750, comparando o clima histórico com cenários contrafactuais (sem as emissões daquela companhia). A metodologia é alinhada às práticas do IPCC e já foi validada em mais de 100 estudos.

Os resultados mostram que, no agregado, as carbon majors respondem por 60% de todas as emissões cumulativas de CO₂ da era industrial, sendo responsáveis por cerca de metade do aquecimento global.

Entre as 180 companhias analisadas, as 14 maiores — incluindo Saudi Aramco, ExxonMobil, Shell, Chevron, BP — têm impacto equivalente ao de todas as outras somadas.

“Todos os gases de efeito estufa causam danos climáticos, e este estudo mostra que as emissões das empresas intensificaram individualmente centenas de ondas de calor pelo mundo”, afirma Rupert Stuart-Smith, do programa de Direito Sustentável da Universidade de Oxford. Richard Wiles, do Center for Climate Integrity, ressalta que a conexão científica entre produtores fósseis e desastres climáticos letais só se fortalece, reforçando a base para ações legais. “Este estudo sugere que a relação de causa e efeito entre as emissões de combustíveis fósseis e as ondas de calor é muito maior do que se compreendia antes”.

Plataforma em operação no Campo de Búzios.

Estudo liga emissões de petroleiras a ondas de calor pela 1ª vez

Ao menos 213 eventos neste século não ocorreriam sem o carbono lançado por 180 empresas, que também respondem por metade do aumento da intensidade desses extremos. (ecodebate)

Abordagem demográfica positiva para a Itália

Envelhecimento na Itália: os desafios e as oportunidades

Uma abordagem demográfica positiva para a Itália centra-se em transformar os desafios do envelhecimento e declínio populacional em oportunidades, promovendo uma economia prateada através de políticas que valorizem os idosos, estimulem a natalidade com apoio a jovens, e abram as portas para a imigração, especialmente de descendentes de italianos, para revitalizar a força de trabalho e a continuidade social da nação.

Estratégias para uma Abordagem Demográfica Positiva:

Valorização da População Idosa: Combater o etarismo e promover representações positivas de pessoas idosas.

Incentivar empregos flexíveis e adequados para idosos que desejam continuar trabalhando.

Garantir sistemas de aposentadoria e previdência social robustos.

Promover programas de voluntariado para que idosos contribuam e recebam apoio.

Facilitar a transferência social de conhecimento e habilidades entre gerações.

Estímulo à Natalidade: Implementar e reforçar políticas para aumentar a taxa de natalidade, como o bônus para cada criança nascida ou adotada.

Fornecer apoio econômico e infraestruturas adequadas para pais jovens e seus filhos.

Criar um clima social que veja o início de uma família como um empreendimento valorizado.

Promoção da Imigração e Integração: Facilitar a chegada e o acolhimento de imigrantes e descendentes de italianos.

Simplificar o processo de reconhecimento da cidadania italiana para descendentes.

Oferecer incentivos fiscais para pequenos municípios que recebam novos residentes.

Implementar políticas de inclusão e integração para reverter o colapso populacional.

Inovação e Desenvolvimento Sustentável: Promover a inovação tecnológica impulsionada pela economia prateada.

Incentivar o planeamento urbano sustentável, considerando as necessidades de uma população em envelhecimento.
Pirâmide Etária da Itália em 2025

Uma abordagem demográfica positiva para a Itália

Adotar a demografia positiva não significa negar ou minimizar os desafios demográficos reais que o país enfrenta. Em vez disso, exige uma mudança de perspectiva

Muitos veículos da mídia difundem uma visão alarmista sobre a dinâmica demográfica da Itália. Na última década, a população italiana diminuiu em quase 2 milhões de habitantes e o número de nascimentos cai há 16 anos consecutivos. Em média, as mulheres italianas estão tendo apenas 1,2 filho, o menor nível já registrado no país. Isso está abaixo da taxa média de fecundidade da União Europeia, de 1,4 filhos, e muito abaixo dos 2,1 necessários para a reposição da população.

Apesar dos esforços para incentivar a natalidade e de muitas discussões sobre políticas favoráveis ao aumento do tamanho das famílias, o governo de direita da primeira-ministra Giorgia Meloni não conseguiu reverter a baixa taxa de fecundidade e nem o decrescimento populacional.

Contudo, o e-book “Population Report 2025. Towards a Positive Demography” (Vignoli, Paterno, Strangers, 2025) — oferece uma interpretação distinta e, em muitos aspectos, inovadora da dinâmica sociodemográfica da Itália através da lente da demografia positiva. Em contraste com as narrativas alarmistas predominantes que dominam a mídia e o discurso público, apresenta uma perspectiva mais equilibrada sobre a mudança populacional.

Segundo os autores, adotar a demografia positiva não significa negar ou minimizar os desafios demográficos reais que o país enfrenta. Em vez disso, exige uma mudança de perspectiva: reconhecer que estamos passando por uma transição profunda para uma fase qualitativamente diferente — nem melhor nem pior, mas nova. Essa abordagem nos incentiva a reconhecer as oportunidades inerentes às mudanças demográficas, ao mesmo tempo em que nos engajamos ativamente com os desafios que elas acarretam

A Itália, como muitas sociedades avançadas, está testemunhando grandes transformações: aumento da longevidade e melhor saúde na terceira idade, uma lacuna persistente entre a fecundidade desejada e a real, mudanças nas estruturas familiares, fluxos migratórios internacionais, melhorias educacionais e padrões de autonomia juvenil em evolução.

Essas tendências estão remodelando não apenas as estruturas populacionais, mas também as expectativas sociais e as necessidades institucionais. Por exemplo, a taxa de evasão escolar e a proporção de jovens que não estudam nem trabalham diminuíram significativamente nos últimos anos — especialmente em algumas regiões — enquanto novas formas de vida familiar são cada vez mais aceitas. A migração, apesar de suas complexidades, ajudou a mitigar o declínio populacional no curto prazo. Além disso, algumas áreas do país estão começando a exibir sinais encorajadores de bem-estar demográfico.

Um recente estudo global de especialistas sobre mudanças demográficas (Comissão Europeia, 2023) ressalta a necessidade de concentrar as futuras políticas demográficas no desenvolvimento sustentável e nas capacidades humanas — em vez de perseguir metas numéricas. Especialistas concordam sobre a importância de estabilizar os sistemas de bem-estar social e saúde, ao mesmo tempo em que apoiam as gerações mais jovens. Fundamentalmente, o consenso mais forte na pesquisa não se concentrou em visões pessimistas sobre as tendências populacionais, mas sim na necessidade de alinhar o pensamento demográfico com objetivos sociais e de desenvolvimento mais amplos.

Itália registrou a menor taxa de nascimentos desde unificação

A Itália enfrentará, de forma inexorável, uma fase inédita de aumento do percentual de idosos, acompanhado pela diminuição absoluta e relativa dos demais grupos etários. A idade mediana da população italiana está projetada para atingir 53 anos em 2100, o que significa que a chamada geração prateada, formada por pessoas com 50 anos ou mais, será a maioria da população a partir da próxima década.

Contudo, o envelhecimento populacional não deve ser visto apenas como um obstáculo. Ele também pode gerar oportunidades, desde que políticas públicas, iniciativas privadas e a sociedade civil abandonem a percepção de que a população idosa é um “peso morto” para o sistema produtivo. O combate ao etarismo e o investimento no potencial das gerações com 50 anos ou mais são fundamentais para aproveitar a base da economia prateada.

A economia prateada, embora ainda em processo de consolidação como conceito, refere-se ao conjunto de atividades econômicas relacionadas à população idosa, considerando seu consumo, trabalho e contribuição social. Essa oportunidade está intimamente ligada a um envelhecimento populacional ativo e saudável.

Um fator fundamental é refutar as discriminações e o etarismo, promovendo representações positivas e diversificadas de pessoas, desafiando estereótipos negativos e promovendo uma visão mais inclusiva e respeitosa dos idosos. Também, incentivar políticas que permitam aos idosos continuar trabalhando, se assim desejarem, por meio de empregos flexíveis e adequados, além de garantir sistemas de aposentadoria e previdência social robustos para proporcionar segurança econômica aos idosos. Incentivar programas de voluntariado onde idosos possam contribuir e, ao mesmo tempo, receber apoio da comunidade. Por fim, é essencial garantir a diversidade etária nas empresas e a transferência social de conhecimento e habilidades entre gerações.

Sem dúvida, a economia prateada pode ser um catalisador de mudanças positivas rumo à sustentabilidade social e ambiental, tanto por meio de redução das desigualdades e da implementação de padrões de consumo mais conscientes, quanto pelo incentivo à inovação tecnológica e ao planejamento urbano sustentável.

Ao alinhar as necessidades do envelhecimento populacional com práticas ecologicamente responsáveis, há a oportunidade de criar um futuro mais sustentável e inclusivo para todas as gerações. (ecodebate)

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Mudança climática deve impulsionar epidemia de dengue no Brasil e vizinhos

Pesquisa mostra que o aumento das temperaturas está criando condições ideais para a explosão de doenças transmitidas por vetores, com o Brasil na rota crítica de expansão do mosquito Aedes aegypti.

As mudanças climáticas não são uma ameaça distante, mas um motor potente de crises de saúde pública já em curso. É o que conclui um estudo abrangente do Stanford Woods Institute for the Environment, uma das instituições de pesquisa ambiental mais prestigiadas do mundo.

A pesquisa, que analisou dados de saúde e clima de décadas, traça um futuro preocupante: um planeta mais quente é um planeta mais doente, e o Brasil, junto com seus países vizinhos, está na linha de frente dessa crise, especialmente para a dengue.

A ligação, explicam os pesquisadores, é direta e alarmante. Mosquitos vetores de doenças, como o Aedes aegypti (transmissor da dengue, Zika e chikungunya), são extremamente sensíveis às condições climáticas.

O aumento da temperatura acelera seu ciclo de vida, faz com que se reproduzam mais rapidamente e também diminua o período de incubação do vírus dentro do mosquito. Isso significa que mosquitos infectados se tornam capazes de transmitir doenças em um espaço de tempo muito menor.

“O clima está se tornando mais adequado para a transmissão de doenças”, afirma a pesquisa de Stanford, destacando que regiões que antes eram muito frias ou secas para sustentar populações robustas de mosquitos estão agora se tornando habitats acolhedores.

Brasil e América do Sul: A zona de perigo

Enquanto o estudo aponta para uma possível redução de transmissão em algumas áreas tropicais já extremamente quentes, que podem se tornar inóspitas para os mosquitos, o grande alerta é para a expansão geográfica para regiões anteriormente poupadas. É exatamente neste grupo que se enquadram vastas áreas do Brasil e dos países da bacia do Prata, como Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia.

Cidades e estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, que historicamente registravam casos de dengue de forma esporádica e principalmente no verão, devem enfrentar temporadas de transmissão mais longas e intensas. Os invernos mais amenos falham em eliminar suficientemente a população de mosquitos, criando um cenário de risco durante boa parte do ano.

“O que eram surtos pontuais podem se tornar epidemias recorrentes e endêmicas nessas novas regiões”, analisa um especialista em saúde pública com base no estudo. “Isso sobrecarrega sistemas de saúde que não estão acostumados com esse volume de casos e expõe uma população sem imunidade prévia adquirida, potencialmente levando a mais casos graves”.

Mudança climática e saúde pública

A pesquisa do Stanford Woods Institute vai além do diagnóstico sombrio e serve como um urgente chamado para a ação. Ela deixa claro que combater essa nova realidade exige uma mudança de paradigma: a resposta à dengue não pode ser apenas um problema do setor de saúde.

As estratégias precisam ser integradas, envolvendo:

• Vigilância Epidemiológica Reforçada: Monitoramento climático e de surtos devem andar de mãos dadas para prevar onde e quando o próximo surto vai acontecer.

• Investimento em Infraestrutura: Saneamento básico, abastecimento de água regular e gestão de resíduos são fundamentais para eliminar criadouros.

• Campanhas de Conscientização Permanentes: A população deve ser constantemente lembrada e educada sobre as medidas para evitar a proliferação do mosquito.

• Planos de Contingência dos Sistemas de Saúde: Hospitais e postos de saúde precisam estar preparados para picos sazonais de demanda.

O estudo conclui que, em um mundo em aquecimento, a luta contra a dengue se tornará ainda mais complexa. A janela de oportunidade para se adaptar e fortalecer as defesas está se fechando rapidamente, e o custo da inação será medido não apenas em graus Celsius, mas em milhares de vidas perdidas.

Aumento previsto na incidência da dengue devido às mudanças climáticas até 2050. Os círculos negros mostram cidades nos países de estudo com mais de 5 milhões de habitantes. (Crédito da imagem: Marissa Childs, et al. / PNAS). (ecodebate)

Trump pressiona países a recuarem suas metas climáticas

Como Trump tem pressionado países a recuarem de suas metas climáticas.
O presidente Donald Trump não está apenas trabalhando para impedir a transição para longe dos combustíveis fósseis nos Estados Unidos. Ele está pressionando outros países a flexibilizarem seus compromissos de combate às mudanças climáticas e, em vez disso, a queimarem mais petróleo, gás e carvão.

Trump, que se uniu aos republicanos no Congresso para acabar com o apoio federal a veículos elétricos e energia solar e eólica, está aplicando tarifas, impostos e outros mecanismos da maior economia do mundo para induzir outros países a queimar mais combustíveis fósseis. Sua aversão é particularmente focada na indústria eólica, que é uma fonte de eletricidade bem estabelecida e em crescimento em vários países europeus, bem como na China e no Brasil.

Durante uma reunião de gabinete, Trump disse que estava tentando educar outras nações. “Estou tentando fazer com que as pessoas aprendam sobre o vento rapidamente, e acho que fiz um bom trabalho, mas não bom o suficiente porque alguns países ainda estão tentando”, disse Trump. Ele disse que os países estavam “se destruindo” com a energia eólica e disse: “Espero que eles voltem aos combustíveis fósseis”.

No mês passado, o governo prometeu punir países – aplicando tarifas, restrições de visto e taxas portuárias – que votarem a favor de um acordo global para reduzir as emissões de gases de efeito estufa do setor de transporte marítimo.

Dias depois, em Genebra, o governo Trump se uniu à Arábia Saudita e a outros países produtores de petróleo para se opor a limites na produção de plásticos à base de petróleo, cujo uso explodiu nos últimos anos e está poluindo cursos de água, prejudicando a vida selvagem e até sendo detectado no cérebro humano.

Em julho, o governo Trump fechou um acordo comercial com a União Europeia, no qual concordou em reduzir algumas tarifas se o bloco comprasse US$ 750 bilhões em petróleo e gás americanos ao longo de três anos. Esse acordo levantou preocupações em alguns países europeus, pois entraria em conflito com os planos de reduzir o uso de combustíveis fósseis, cuja queima é o principal motor das mudanças climáticas.

“Eles estão claramente usando várias ferramentas em uma tentativa de aumentar o uso de combustíveis fósseis em todo o mundo, em vez de diminuir”, disse Jennifer Morgan, ex-enviada especial da Alemanha para a ação climática.

Também em julho, o secretário de Energia, Chris Wright, alertou que os Estados Unidos poderiam sair da Agência Internacional de Energia depois que a organização previu que a demanda global por petróleo atingiria o pico nesta década em vez de continuar a subir.

Wright disse aos europeus em abril que eles enfrentavam uma escolha entre a “liberdade e soberania” de combustíveis fósseis abundantes e as políticas de “alarmismo climático” que os tornariam menos prósperos.

Taylor Rogers, porta-voz da Casa Branca, disse que o objetivo de Trump era “restaurar o domínio energético da América, garantir a independência energética para proteger nossa segurança nacional e reduzir os custos para as famílias e empresas americanas”, e acrescentou: “O governo Trump não arriscará a segurança econômica e nacional de nosso país para buscar metas climáticas vagas”.

Especialistas em energia e autoridades europeias consideraram o nível de pressão que Trump está exercendo sobre outros países preocupante. O ano passado, o mais quente já registrado, foi o primeiro ano-calendário em que a temperatura média global excedeu 1,5°C ou 2,7°F, acima dos níveis pré-industriais. Junto com isso vieram calor mortal, seca severa e incêndios florestais devastadores. Este ano está a caminho de ser o segundo ou terceiro mais quente já registrado, de acordo com dados de várias agências.

Os cientistas concordam amplamente que, para evitar o agravamento das consequências das mudanças climáticas, os países precisam fazer a transição rapidamente de petróleo, gás e carvão para fontes de energia limpa como eólica, solar, geotérmica e hidrelétrica.

“Neste momento, é absolutamente imperativo que os países redobrem, tripliquem a sua colaboração diante da crise climática para não permitir que os esforços ativos para um mundo de combustíveis fósseis por parte do governo Trump tenham sucesso”, disse Morgan.

Trump rotineiramente zomba da ciência estabelecida das mudanças climáticas e seu governo emitiu um relatório, escrito por cinco pesquisadores que rejeitam o consenso científico sobre as mudanças climáticas, argumentando que centenas dos principais especialistas do mundo exageraram os riscos de um planeta em aquecimento. O presidente também não escondeu seu desgosto por turbinas eólicas e painéis solares.

Em julho, Trump visitou seu resort de golfe Turnberry na Escócia, onde 14 anos atrás ele tentou, sem sucesso, impedir a construção de um parque eólico offshore que podia ser visto de outro resort de golfe de Trump em Aberdeen.

Durante essa visita, Trump se encontrou com Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, para discutir comércio. Ele denunciou a energia eólica como uma “tramoia”. Von der Leyen sentou-se sem expressão ao lado de Trump durante uma coletiva de imprensa após a reunião, enquanto o presidente afirmava falsamente que as turbinas eólicas deixavam os pássaros “malucos”.

Em uma reunião separada com o primeiro-ministro Keir Starmer da Grã-Bretanha naquela semana, Trump chamou a energia eólica de “um desastre”.

A energia eólica responde por cerca de 20% da matriz elétrica na Europa, e os países da UE planejam aumentar isso para mais de 50% até 2050.

“A energia eólica precisa de subsídios maciços, e vocês estão pagando na Escócia e no Reino Unido, e em todos os lugares onde os têm, subsídios maciços para ter esses monstros feios por toda parte”, disse Trump em sua reunião com Starmer.

A coação vai muito além das ações de Trump durante seu primeiro mandato, disseram alguns observadores. Como fez em 2017, Trump em janeiro retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, um pacto global entre quase 200 países para combater as mudanças climáticas. Mas durante o primeiro mandato, Trump focou sua política energética principalmente em retirar os Estados Unidos das discussões globais sobre as mudanças climáticas enquanto promovia a produção doméstica de combustíveis fósseis.

Desta vez, o governo está “tentando ativamente minar os países” em relação ao aquecimento global, disse David L. Goldwyn, presidente da Goldwyn Global Strategies, uma consultoria de energia.

Vários diplomatas de outros países disseram que o governo tem usado táticas cada vez mais agressivas para influenciar as políticas energéticas internacionais.

Em fevereiro, Wright discursou em uma conferência em Londres por vídeo e chamou o net zero (quando a quantidade de dióxido de carbono adicionada à atmosfera é igual ou menor que a quantidade removida) de um “objetivo sinistro” e criticou uma lei britânica para atingir o net zero até 2050.

Em março, o governo Trump denunciou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que foram adotados por nações unanimemente em 2015 e incluem o fim da pobreza e da fome e o combate às mudanças climáticas. O governo disse que “o governo dos Estados Unidos deve se concentrar novamente nos interesses dos americanos” e corrigir o curso em coisas como “ideologia climática”.
O governo Trump se recusou a comparecer às negociações globais neste verão que são um precursor das conversas anuais sobre o clima das Nações Unidas a serem realizadas no Brasil em novembro.

Ele também pulou uma reunião em abril da Organização Marítima Internacional, onde os maiores países de transporte marítimo do mundo concordaram em impor uma taxa mínima de US$ 100 para cada tonelada de gases de efeito estufa emitidos por navios acima de certos limites como forma de conter as emissões. Esperava-se que o órgão adotasse formalmente a taxa em outubro.

Mas o anúncio do governo este mês de que rejeitaria o acordo da organização marítima chocou muitos com sua promessa direta de que os Estados Unidos “não hesitarão em retaliar ou explorar recursos para nossos cidadãos” contra outros países que apoiarem a taxa de transporte.

Enquanto isso, praticamente todos os acordos comerciais do governo Trump incluem requisitos de que os parceiros comerciais comprem petróleo e gás dos EUA.

A Coreia do Sul prometeu comprar US$ 100 bilhões em gás natural liquefeito por um período de tempo não declarado. O Japão também deve investir US$ 550 bilhões nos Estados Unidos, parcialmente focados em “produção de infraestrutura energética”. Uma declaração da Casa Branca disse que o dinheiro incluiria gás natural liquefeito e combustíveis avançados. O governo disse que os Estados Unidos e o Japão também estavam planejando uma “grande expansão das exportações de energia dos EUA para o Japão”. Isso é amplamente considerado uma referência a um projeto proposto de US$ 44 bilhões para transportar gás para a Ásia a partir da Encosta Norte do Alasca.

Trump (atual presidente de USA) tem pressionado países a recuarem de suas metas climáticas queimando mais petróleo e gás.

Presidente não esconde sua aversão à energia eólica e solar nos EUA e agora está levando sua agenda de combustíveis fósseis também para o exterior.

A Europa evitou por pouco uma guerra comercial com Trump ao concordar, entre outras coisas, em comprar US$ 750 bilhões em petróleo bruto, gás natural, outros derivados de petróleo e combustível para reatores nucleares ao longo de 3 anos.

Em uma base anual, isso equivaleria a mais de três vezes a quantidade que o bloco comprou no ano passado dos Estados Unidos.

“Você vê uma tentativa mais sistemática de ser uma estratégia ‘combustível fóssil em primeiro lugar’ para tudo o que eles fazem”, disse Jake Schmidt, diretor de programas internacionais do Natural Resources Defense Council, um grupo ambiental.

O governo pode desacelerar a transição para a energia limpa por outros países, mas não pode impedi-la, disse Schmidt. A maioria dos países que assinaram o Acordo de Paris apresentará metas mais ambiciosas para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa às Nações Unidas este ano, embora alguns possam moderar esses planos por causa da posição dos EUA, disse ele.

Diana Furchtgott-Roth, diretora do Centro de Energia, Clima e Meio Ambiente da Heritage Foundation, uma organização de pesquisa conservadora, argumentou que o governo Trump estava fazendo a coisa certa ao pressionar os países a rejeitarem a energia renovável.

“A Europa está vindo para os Estados Unidos dizendo: ‘Ajude a nos defender contra a Rússia, nos ajude com a Ucrânia’”, disse Furchtgott-Roth. “Enquanto ao mesmo tempo, eles estão gastando US$ 350 bilhões por ano em investimentos em energia verde que estão desacelerando suas economias”.

“Não parece fazer muito sentido para o governo Trump”, disse ela, acrescentando: “Acho que vamos ver mais pressão”. (biodieselbr)

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Impacto humano nos oceanos deve dobrar até 2050

Cientistas analisaram 16 fatores de estresse antropogênico e concluíram que mudanças climáticas são o principal motor do aumento da pressão sobre a vida marinha global; ações imediatas podem reduzir impacto pela metade.

Pesquisadores da Universidade da Califórnia em Santa Barbara (UCSB) mapearam pela primeira vez a pressão cumulativa de atividades humanas sobre os ecossistemas marinhos e projetam um futuro alarmante se não houver mudanças urgentes.

Um estudo inédito realizado por cientistas da Universidade da Califórnia em Santa Barbara (UCSB) soa um alarme para o futuro dos oceanos: o impacto humano sobre a vida marinha global está a caminho de dobrar até o ano de 2050. A pesquisa, que oferece a visão mais abrangente já feita sobre o tema, atribui a projeção principalmente ao aquecimento das águas provocado pelas mudanças climáticas.

A investigação, publicada na renomada revista Nature Sustainability, não se limitou a analisar fatores isolados, como poluição ou pesca. Pela primeira vez, os pesquisadores criaram um modelo que integra e sobrepõe 16 diferentes fatores de estresse antropogênico – desde a acidificação dos oceanos e o transporte comercial até a pesca de arrasto e a poluição por fertilizantes. O objetivo foi calcular a “pegada” humana total nos ecossistemas marinhos.

Os resultados mostram que, atualmente, a atividade humana já exerce pressão significativa em quase todos os cantos dos oceanos do mundo, o equivalente a 95% da área marinha. No entanto, a projeção para as próximas décadas é o que mais preocupa.

“O grande motor dessa duplicação é, predominantemente, as mudanças climáticas“, explica o autor principal do estudo, Ben Halpern, professor da UCSB e diretor do National Center for Ecological Analysis and Synthesis. “Enquanto outros fatores, como a poluição localizada, podem ser mitigados com ações regionais, o aquecimento e a acidificação dos oceanos são globais e exigem uma resposta coordenada internacionalmente”.
Os “pontos quentes” de impacto e a desigualdade marinha

O estudo também identificou os “pontos quentes” de maior pressão, que incluem regiões costeiras densamente povoadas, mares fechados como o do Norte e o da China Oriental, e até mesmo áreas remotas, como o Atlântico Norte e o Oceano Antártico, devido às rotas de transporte e aos efeitos climáticos.

Uma descoberta crucial, e socialmente relevante, é a desigualdade do impacto. A pesquisa conclui que as nações desenvolvidas geram, em média, uma pressão duas vezes maior por pessoa sobre os oceanos do que os países em desenvolvimento. No entanto, os efeitos mais severos dessa pressão recaem desproporcionalmente sobre as comunidades costeiras de nações insulares e em desenvolvimento, que dependem diretamente do oceano para sua subsistência e segurança alimentar.

Poluição oceânica por plásticos quadruplicará até 2050

O cenário da ação imediata

Apesar do cenário sombrio, os cientistas enfatizam que a projeção não é um destino inevitável. O estudo modelou um segundo cenário, no qual a humanidade adota políticas agressivas para combater as mudanças climáticas (seguindo o caminho de baixas emissões do IPCC) e implementa gestões eficazes de conservação marinha.

Neste caminho alternativo, a projeção de crescimento do impacto cai drasticamente. Em vez de dobrar, o aumento seria de apenas 50% – um número ainda alto, mas significativamente mais gerenciável, que daria uma chance de recuperação para os ecossistemas marinhos.

“Esta não é uma sentença, é um alerta”, afirma o pesquisador. “Os dados nos mostram com clareza as consequências de continuarmos no caminho atual, mas também nos mostram que temos uma escolha. A janela para agir é pequena, mas ainda está aberta. Ações decisivas contra as mudanças climáticas e a favor da conservação marinha podem mudar radicalmente o futuro que aguarda nossos oceanos”.

A mensagem final do estudo é clara: o que acontecer nos próximos anos determinará se a pressão sobre os oceanos atingirá níveis críticos ou se começará a ser controlada, garantindo a saúde do maior ecossistema do planeta para as gerações futuras.

Impactos de pressão cumulativos e individuais atuais e futuros sobre os ecossistemas costeiros e offshore.

Impacto humano no oceano duplicará até 2050, alertam cientistas

(A) Gráfico de densidade de estimativas de células rasterizadas offshore e costeiras de impactos cumulativos; as células rasterizadas offshore foram amostradas aleatoriamente para ter o mesmo tamanho de amostra que a região costeira (valores relatados no quadro S2).

(B) Estimativas médias de impactos de pressão para as regiões offshore e costeiras, a seta descreve a direção da mudança (valores comunicados no quadro S3). As regiões costeiras representam águas oceânicas dentro de 20 km da costa. (ecodebate)

Alta do preço dos alimentos no mundo em 2025

A combinação entre crise climática, conflitos armados, atraso na transição demográfica e retração da ajuda internacional representa um sério obstáculo à ambiciosa meta da ONU de erradicar a fome até 2030.
Preços de Alimentos em Alta: Expectativa de Inflação em 2025

O Índice de Preços de Alimentos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) atingiu a média de 130,1 pontos em agosto de 2025, praticamente inalterado em relação ao nível revisado de julho de 130 pontos. As quedas nos índices de preços de cereais e laticínios foram compensadas por aumentos nos índices de carne, açúcar e óleos vegetais.

No geral, o IPFA ficou 8,4 pontos (6,9%) acima do registrado em agosto de 2024, mas permaneceu 30,1 pontos (18,8%) abaixo do pico atingido em março/2022 (gráfico abaixo painel da esquerda).

O gráfico do painel da direita mostra a evolução do preço real dos alimentos da FAO entre 1961 e 2025. A média dos preços reais dos alimentos na década de 1960 foi de 104,7 pontos e subiu para 110,2 pontos na década de 1970. O recorde de preços de 1974, de 137,4 pontos, ocorreu em decorrência da Guerra do Yom Kippur e do consequente aumento do preço dos combustíveis fósseis.

Na década de 1980 a média decenal de preços caiu para 80,7 pontos (abaixo da média de 2014-16 = 100). Com o fim da Guerra Fria e o avanço dos acordos internacionais da governança global, o preço dos alimentos atingiu a média decenal de 77 pontos na década de 1990, o menor valor da série histórica.

Contudo, o preço dos alimentos voltou a aumentar no século XXI. A média decenal do preço real dos alimentos foi de 86,4 pontos na primeira década dos anos 2000 e subiu ainda mais para 102,9 pontos na segunda década do atual século. Até 2020, o recorde inconteste do preço dos alimentos permanecia na década de 1970.

No entanto, a combinação dos efeitos da disrupção das cadeias produtivas ocorridas com o espalhamento da pandemia da covid-19 e com a invasão da Ucrânia pela Rússia fez o preço dos alimentos bater todos os recordes dos últimos 100 anos e atingiu 141,4 pontos em 2021. Na média quinquenal (2021-25) o índice de preços ficou em 122 pontos, bem acima do valor médio da década de 1970. Batendo todos os recordes históricos.

A meta 2 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) trata da “Fome Zero e Agricultura Sustentável” e propõe: “Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável”. Todavia, existe uma pedra no meio do caminho, pois há cerca de 733 milhões de pessoas que passaram fome em 2023, o equivalente a uma em cada 11 pessoas no mundo e 1 em cada 5 na África, de acordo com o relatório o Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo (SOFI) divulgado por cinco agências especializadas das Nações Unidas em 2024.

O relatório mostra que o mundo retrocedeu 15 anos, apresentando níveis de desnutrição comparáveis aos de 2008-2009. Em 2023, cerca de 2,33 bilhões de indivíduos no mundo enfrentaram insegurança alimentar moderada ou grave, um número que não mudou significativamente desde o aumento brusco em 2020, em meio à pandemia da Covid-19. A população mundial deve aumentar em cerca de 1 bilhão de habitantes até 2040, enquanto os desastres ambientais devem se agravar.

O Relatório Global sobre Crises Alimentares, divulgado dia 16/05/2025 por diversas agências da ONU, mostra que a crise alimentar atual piorou pelo 6º ano seguido em 53 países e territórios frágeis. Apenas em 2024, 295 milhões de pessoas, em 53 países e territórios analisados, enfrentaram fome aguda, quase 14 milhões a mais em comparação com 2023.

Infelizmente, a crise alimentar deve se agravar em 2025. A fome na Faixa de Gaza é um evento dramático que tem alarmado o mundo. Mas a fome não se restringe ao território de Gaza, pois dezenas de milhares de famílias que se alimentavam com o apoio de ajuda internacional, encontram-se agora em situação de abandono.

O desmonte de agências especializadas da ONU promovido pelo governo Donald Trump, nos Estados Unidos, somado ao corte de 90% nos contratos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e à redução de US$ 60 bilhões na assistência global norte-americana, tem provocado efeitos devastadores em diversos países da África Subsaariana. A região também sofreu os impactos da diminuição de recursos por parte da França e do Reino Unido, especialmente em suas ex-colônias.

Promessa do presidente Lula de baratear alimentos será difícil de ser cumprida

Nesse contexto, a combinação entre crise climática, conflitos armados, atraso na transição demográfica e retração da ajuda internacional representa um sério obstáculo à ambiciosa meta da ONU de erradicar a fome até 2030. As perspectivas atuais são pouco animadoras, particularmente para os países de baixa renda. Um mundo livre da fome continua uma utopia distante. (ecodebate)

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